a senhora que se segue: Vânia Beliz

FotoVânia Beliz (Lisboa, 1978) é Psicóloga Clínica e da Saúde, mestre em Sexologia e doutoranda em estudos da criança na especialidade de saúde infantil. Teve, durante 3 anos, uma rubrica quinzenal sobre sexualidade, no programa Curto-Circuito, na SIC Radical. Participa em diversos projetos de educação sexual, sendo responsável pelo Controltalk, serviço de esclarecimento sobre sexualidade, dirigido essencialmente a jovens, através do Whatsapp. É Consultora da Control Portugal e colabora com várias revistas, programas de televisão e projetos na área da educação sexual. Com vários trabalhos publicados na área da sexualidade feminina, na deficiência e no envelhecimento, Vânia Beliz é oradora em várias conferências e eventos sobre sexualidade. Técnica num Gabinete de Ação Social Municipal, tem 3 livros publicados, Ponto Quê?, A Viagem de Peludim e Chamar as coisas pelos nomes, que vai apresentar, no próximo dia 11, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, cidade onde escolheu viver, e é ainda uma mulher de outras causas, nomeadamente projetos que envolvem mulheres e meninas africanas, com destaque para a Guiné Bissau.

Vânia Beliz é a Senhora que se segue no Expoente M.

logoM Tem a vida que idealizava?

Penso que não imaginei este percurso. Enquanto estudei no ensino secundário gostava de algumas áreas que me foram impossíveis como a medicina ou a enfermagem. Acabei por escolher Psicologia, o que, na altura, acumulei com o trabalho na banca; todo o meu percurso académico tem sido conjugado com o trabalho. Depois a especialidade em sexologia foi um desafio e aí sinto que encontrei o que gostaria de fazer, mas como a área clínica não era a minha favorita, acabei por me dedicar à educação, aqui sinto que faço realmente o que gosto mas não foi um caminho fácil. Oriunda de uma família conservadora foi difícil mostrar à família a importância desta área para o bem‑estar e felicidade das pessoas. Hoje sinto esse reconhecimento para o qual também tenho trabalhado. Por isso apesar de me ter imaginado com outra vida, fui educada para constituir família e ser boa dona de casa, acho que sou muito mais feliz. Jamais me imaginaria mergulhada exclusivamente na vida doméstica.

logoMA intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?

Penso que a vida é muito curta para não fazermos nada que possa melhorar a vida de quem está à nossa volta e eu quero muito tentar fazer a minha parte. Todos devemos contribuir para essa mudança.

logoM No seu caso como a pratica?

Através da educação, da forma como me dirijo as pessoas. A comunicação é muito importante e é algo que gosto muito de fazer. Poder ser ouvida e discutir, com outras pessoas, outras ideias é a melhor forma de aprofundar o conhecimento. Educar! Educar!

logoM Como vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar?

Não tenho filhos, foi uma opção conjunta. Não trabalho a tempo inteiro na minha área de especialidade e, por isso, ainda não estou livre como gostaria. Não faço divisão entre família e a minha área profissional porque trabalho em sexologia com paixão, prefiro ir a uma formação, fazer voluntariado do que ir uma semana para a praia. Ao meu lado tenho uma pessoa que me ajudou a conquistar a minha autonomia e que me empoderou, fazendo‑me acreditar que conseguirei tudo aquilo que depender de mim e da minha motivação. Não poderia ser mais feliz noutro tipo de família.

logoM Na sua vida existe equilíbrio entre a vida profissional e familiar?

Nem sempre… porque tenho outra atividade profissional. Parte de tudo o que faço é no tempo livre, cada vez menor. Sei que tenho tudo a dar neste momento mas também sei ao que estou. Sinto que não tenho o tempo que precisava para estar ao lado de quem gosto mas todos sabem que estarei logo que for necessário. Não tenho as comuns obrigações familiares; estou quando posso e desejo realmente, e tenho a sorte, de até ao momento, de ter a meu lado quem compreenda esta minha forma de viver.

logoM Já sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?

Acho que foi mais dificultada por ser a área que é: uma mulher a falar de sexo, e começou  logo pela família. Uma mulher munida de modelos de pénis, vulvas… a falar de prazer. Isso sim foi um desafio que tive de ultrapassar…

logoM As mulheres partilham pouco, guardam muito para si?

Escuto muitas mulheres, leio muitas que me escrevem e me falam da sua intimidade. Existe muito desconhecimento, muita falta de autoestima, muitas mulheres insatisfeitas. Depois existem muitas ainda muito vulneráveis e foi isso que me fez partir para África, onde tenho em curso vários projetos de intervenção em educação sexual com meninas e mulheres.

logoM O que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?

Que se respeitem, que exijam a igualdade sem medo, que não desistam!

logoM Como podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?

Envolver-se, unir-se! Juntas não nos diminuímos, acrescentamo-nos.

logoM Qual é o seu maior sonho?

Voltar sempre que possa a África, ter um projeto de educação que seja importante para a saúde de comunidades mais vulneráveis e viver o tempo suficiente para conseguir concretizar tudo o que quero fazer. Ter estabilidade, amor e paz que cimente tudo o que ainda sinto que tenho que fazer… e viver apaixonada por este caminho que sinto que é uma missão.

 

 

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