O minar de uma minoria xenófoba

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pensando alto

Sónia Calvário

Num mundo globalizado, repleto de guerras, alimentadas por Estados que, apregoando a defesa dos Direitos Humanos, se movem por interesses que com estes pouco têm a ver, num planeta que sofre de desamor, assistimos a crescentes vagas de migrações. Fogem da guerra e da fome, procuram um lugar melhor, querem realização pessoal e profissional, aspiram à felicidade.

A multiculturalidade é uma realidade e não é de agora. É irreversível. Como tudo, tem o lado positivo e o negativo. Potencia o conhecimento e a aceitação da diferença, mas também é aproveitado para promover o medo, que, como sabemos, tem por grande aliado a ignorância. Quer seja por assimilação, através da qual o migrante deve aceitar totalmente a cultura do país de acolhimento, quer por processo de aculturação, dando origem a uma nova cultura, fruto da convivência, é matéria que tem merecido alguma atenção por parte dos Estados, nomeadamente europeus. Em Portugal, assume-se a opção pelo modelo intercultural, em que se pretende uma coexistência, reconhecendo as origens culturais dos migrantes.

Facto indiscutível é de que o multiculturalismo é pluridimensional, que requer respostas sérias e profundas, baseadas numa estratégia transversal, pensada a médio-longo prazo. Na educação têm sido dados passos importantes, mas a ação isolada ou sectorial não dará os frutos desejados: a convivência harmoniosa e pacífica, baseada no respeito pela diferença. E, há uma preocupação que cresce: os discursos de ódio propagados pelas redes sociais, nalguns discursos políticos e também, de forma mais ou menos subtil, na comunicação social. Eis que nos apercebemos que a intolerância ganha espaço, que a maldade vence a ignorância, mas também o conforto de sermos (muitos, a maioria) apenas observadores.

Numa sociedade cada vez mais homogénea, mas simultaneamente mais diversificada, é necessário refletir e agir sobre as causas do medo e que fomenta a xenofobia (por motivos étnicos, religiosos, políticos, clubísticos, de género…), de uma certa minoria, mas cada vez mais óbvia: a pobreza, o desemprego, a instabilidade profissional e económica, o desejo, cada vez mais precocemente incutido, da competição… mas celeridade também se exige, sob pena de, aquietando-nos, sermos tomados por osmose pela esmagadora minoria que vocifera e difunde o ódio e que, no dizer de Miguel Araújo, tem força de lei.

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