a senhora que se segue: Luísa Costa

fotoLuísa Costa, 41 anos, licenciada em Animação Sociocultural, com formação técnica em Expressão Dramática e Corporal, é Presidente da Direção da centenária Sociedade Filarmónica Capricho Bejense, atriz no Grupo de Teatro da Capricho e Formadora de Oficinas de Teatro.

Seguindo os passos do pai, dirigente, por mais de 30 anos, da “Capricho”, como é conhecida a sociedade filarmónica criada a 15/07/1916, Luísa Costa foi reeleita, há pouco mais de um ano, como Presidência da Direção, cargo que ocupa desde 2013, fazendo parte deste órgão há treze anos.

No mês em que se comemora o Dia Nacional das Coletividades (dia 31), Luísa Costa é a Senhora que se segue no Expoente M.

logoMTem a vida que idealizava?

Posso dizer que sim. Parece resposta cliché, mas foi a vida que escolhi. Reconheço que não segui a linha tradicional do ir para a Universidade aos 18, ou de casar aos 22. Faço tudo dentro do meu tempo, quando sinto que tem de ser, quando se propiciam oportunidades. Mas, também, confesso que se não fossem os vincados laços familiares, o meu percurso teria passado por outros caminhos. Aos 18 anos, a minha rota teria sido outra. Porém, nunca é tarde para mudar.

logoMA intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?

 Com certeza, é crucial. Para se encarar as exigências constantes da sociedade, é imprescindível a formação de cidadãos participativos, críticos, reflexivos, intervenientes e responsáveis.

É emergente promover a educação para a cidadania. Deve enaltecer-se uma participação ativa na sociedade. E não devemos colocar toda esta carga de formação nas escolas. As escolas, claro, devem ter um papel ativo, mas outras entidades competentes, também.

O Associativismo é uma boa escola de aprendizagem de direitos e deveres, de intervenção dos cidadãos nas várias esferas da vida social.

Cidadãos formados, bem informados, e conscientes, são mais capazes de construir uma sociedade mais justa e coesa.

logoMComo vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar?

É sempre um assunto delicado, o de conciliar tudo. Há dias em que as 24 horas não chegam. Não há mãos a medir para todos os afazeres. Por vezes descura-se um lado, para beneficiar o outro. Há os dias de frustração por não se conseguir tudo. Mas há os dias em que os poderes de super mulher prevalecem. E tudo bate certo, quando bem organizado.

logoMNa sua vida existe equilíbrio entre a vida profissional, familiar/social?

Sim, aposto na qualidade, em qualquer uma das áreas. Quando é para estar, ser e fazer, é para estar, ser e fazer. A energia e o jogo de cintura são renovados regularmente.

logoMJá sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?

Creio que não.

logoME como dirigente associativa, sente, ou já sentiu, dificuldade na sua afirmação e/ou na compatibilização com a vida profissional e familiar?

Nunca senti dificuldades de afirmação.

Muitas vezes prevalece a vida associativa, à vida familiar. Muitas vezes aconteceu, e acontece.

Das muitas atividades que tenho, a associativa, era a única que o meu pai não punha em causa. Porque foi Dirigente Associativo, na Capricho Bejense, mais de 30 anos. Sabia que quando é necessário arregaçar as mangas para salvar o barco, de tempestades, não se pode perder tempo, nem adiar. A esta herança, ele, nunca, se contrapôs. É um dos meus orgulhos.

logoMAs mulheres partilham pouco, guardam muito para si?

Algumas. Outras nem tanto. Mas com os homens acontece de igual forma. Não vivemos, num mundo, em que se partilha. Há receios. Mas se houver segurança e firmeza, em nós, nos nossos passos, não há que temer. Há um lugar, ao sol, para todos os desportos, raças, religiões, políticas, associações, etc, e aqui só há que saber empregar os conceitos das palavras Respeito e Tolerância.  

Para alguns o segredo é a alma do negócio. Mas não será a alma que é o segredo do negócio?

logoMO que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?

Como diria Eugénio de Andrade: “É urgente o amor… / É urgente destruir certas palavras”. O caminho ainda é longo, no que respeita aos direitos e à igualdade de género. Porém, os movimentos ativistas e a defesa de gerações de mulheres estão a germinar. Não se devem ignorar direitos. E a igualdade de géneros é uma questão de direitos humanos. A desigualdade de género e a discriminação contra as mulheres afeta-nos a todos. As vozes não se deverão calar.

logoMComo podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?

Essencialmente não baixar os braços, há que ter atitude, há que lutar, reivindicar e dar aso aos sonhos. Sabemos que as sementes não dão logo fruto, mas com perseverança, tudo chegará a bom porto. Tudo é possível. Basta crer e querer.

logoMQual é o seu maior sonho?

Continuar a acreditar. O pior pesadelo é o de desacreditar tudo.


CaprichoBejense_A Sociedade Filarmónica Capricho Bejense foi fundada a 15 de Julho de 1916. A origem do nome “Capricho” e deve-se à insatisfação de um grupo de diretores, que na altura faziam parte de outra sociedade, e descontentes com as regras, por capricho criaram esta associação.

Os primeiros Estatutos diziam que “A Associação tem como objeto social manter uma filarmónica e uma ação cultural e recreativa, criando para isso as respetivas secções e proporcionando aos seus associados e a suas famílias as correspondentes atividades”.

Hoje, já com outros estatutos, a S.F.C.B. cumpre integralmente, como em 1916, a filosofia dos seus promotores, ou seja, manter uma Banda de Música e a escola de Música, serviço, ainda hoje, gratuito para quem tenha gosto por aprender música.

Nestes 103 anos de existência foram muitas as iniciativas pioneiras. Foi nesta Sociedade que muitos Bejenses viram, pela primeira vez, uma peça de teatro, um concerto de música, viram pela primeira vez, televisão, ou leram um livro.

De tal modo a sua influência sociocultural se tem feito sentir na região, que não há Bejense, que por razões diversas, não tenha da sua juventude saudosas e ternas recordações ligadas a esta coletividade.

Pela sua ação em prole da cultura, foi em 2008 foi reconhecida como entidade de utilidade pública.

Em 2016 foi agraciada, pela Câmara Municipal de Beja, com a Medalha de Honra, aquando das comemorações do seu centésimo aniversário.

A S.F.C.B. continua a ter um papel essencial, no que respeita à organização de eventos de carácter cultural. A banda filarmónica, o Grupo de Teatro, as Oficinas de Teatro, as Danças de Salão, as Matinés de Fado, as Matinés Dançantes, a Feira do Livro, as parcerias com outras entidades, a presença do Clube de Bilhar de Beja, agora sediado nas instalações desta Associação, fazem com que a Capricho Bejense, com a sua sede requalificada em 2016, tenha novo fôlego e que seja visitada por pessoas com idades heterogéneas.

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