ars athletica
Inês Nobre Correia, 33 anos, especialista em Enfermagem Comunitária, trabalha na Santa Casa da Misericórdia de Odemira desde 2010, ano em que passou também a assumir funções, como dirigente, no, quase centenário, Sport Clube Odemirense, a que preside desde 2016.
Foi Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Odemira e, mais tarde, da AE da Escola Superior de Saúde de Beja.
A equipa que dirige no SCO tem investido num trabalho inclusivo e próximo da comunidade, proporcionando não só futebol e futsal feminino (desde 2015) aos jovens, mas também voleibol feminino (desde 2017) e desporto adaptado.
Inês Correia é a primeira no pódio do Expoente M, o espaço de entrevistas do ars athletica.
Tem a vida que idealizava?
Não penso muito no futuro. Traço objetivos consoante as escolhas de vida que faço no dia-a-dia e nas coisas a que me comprometo, mas não faço muitos planos futuros nem pessoais nem profissionais. Posso dizer que me sinto feliz e realizada até ao momento com a vida que escolhi, e certa de que o associativismo voluntário faz parte de mim, que me completa como pessoa o facto de contribuir para o crescimento da minha terra. Uma coisa sempre tive a certeza: a minha vida passaria por viver na minha terra.
A intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?
Sem dúvida. A nossa participação ativa na sociedade faz de nós seres proativos e com uma maior capacidade de compreensão daquilo que nos rodeia. No caso dos dirigentes associativos, considero que são o pilar da sociedade civil, pois sem dirigentes associativos não há associações que tão fundamentais são para o desenvolvimento de uma sociedade em várias áreas, e isso deve ser uma preocupação de todos.
Como vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar?
Atualmente já tenho uma maior capacidade de conciliação da vida pessoal, familiar e profissional, mas nem sempre foi fácil! Quando assumi a presidência da direção, o receio de falharmos em qualquer destes campos é enorme e requer de nós uma aprendizagem a nível de capacidade de adaptação e de gestão de tempo para conseguirmos estar à altura do desafio! Mas sou uma felizarda, porque a nível laboral sempre houve compreensão pelo cargo que desempenho e a importância do mesmo na comunidade odemirense, tenho o apoio da família e amigos, e tenho uma equipa fantástica que gere comigo esta associação; hoje somos uma família que se dedica aos outros!
Na sua vida existe equilíbrio entre a vida profissional, familiar/social?
Hoje em dia posso dizer que sim. Sei gerir melhor o tempo e não abdicar de tempo para mim e para os meus. Mas confesso que a minha vida é gerida consoante a vida da associação a que presido, quer a nível de férias quer da vida social, mas há equilíbrio.
Já sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?
Claro que sim! A nível profissional não. Mas a nível pessoal sim! Mas tenho uma personalidade muito forte e vincada e isso fez-me persistir para conseguir vingar, principalmente, neste mundo do futebol que ainda está tão voltado para os homens! Mas a nível geral fico feliz por ver esta realizada a mudar diariamente e mulheres a ocuparem cargos cada vez mais importantes na sociedade, a nossa emancipação tem sido notável!
E como dirigente associativa, sente, ou já sentiu, dificuldade na sua afirmação e/ou na compatibilização com a vida profissional e familiar?
Sim, como dirigente associativa já senti dificuldades na minha afirmação. Na história desta associação com 96 anos de história, sou a segunda mulher presidente e agora a com mais mandatos. O futebol tem um peso grande nesta associação e sempre esteve mais vocacionado para os homens e, por vezes, ainda se houve comentários machistas por esse distrito fora, como: “Mas o que é que uma mulher percebe de futebol, ainda mais tão nova?” A verdade é que com o passar do tempo foi sendo encarado de uma forma mais natural e a forma como desempenho este cargo sendo notada e valorizada. Para mim sempre foi algo natural, porque para além de ser enfermeira/massagista do clube, desde pequena que vivo as 4 linhas, por influência do meu pai que foi jogador, dirigente e treinador desta associação e do meu irmão que foi jogador e agora dirigente comigo. E esta afirmação da mulher nesta realidade está a ser reconhecida e tem sido facilitada pelo facto de termos modalidades femininas e pelo facto desta direção ser atualmente composta por 5 mulheres num total de 14 membros.
As mulheres partilham pouco, guardam muito para si?
De uma forma geral, penso que sim! Mas não posso dizer que me enquadro nisso. Sou muito frontal e com o coração na boca, pouco ou nada guardo para mim!
O que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?
Não podemos nos acomodar ao nosso mundinho! Temos de acreditar e lutar por aquilo que queremos e acreditamos. Ser corajosas, firmes e determinadas! Temos uma grande capacidade de adaptação, gestão, competência, só temos de querer e acreditar!
Como podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?
Para além de sermos mulheres de família, temos de ter um papel mais ativo na sociedade civil, seja em que setor for.
Qual é o seu maior sonho?
Uma sociedade mais humana, justa e equilibrada.
O Sport Clube Odemirense, fundado a 1 de março de 1923, é uma entidade sem fins lucrativos que promove o desporto para mais de uma centena de atletas no concelho de Odemira e atividades recreativas e culturais para a comunidade odemirense.
O SCO tem, atualmente, todos os escalões futebol de formação (excepto juniores); seniores; voleibol feminino; futsal feminino; futsal adaptado e boccia, em parceria com a Associação de Paralisia Cerebral de Odemira, e Snooker.
A implantação do futebol em Odemira está ligada a uma família inglesa, proprietária de uma fábrica de cortiça, que, na década de 1920, detinha uma grande parte da mão-de-obra existente na região. Nesta época, em que os Odemirenses gozavam de algum desafogo económico, fundou-se o Sport Clube Odemirense, hoje com 96 anos.