pensando alto
Sónia Calvário
Fiquei surpreendida com o discurso do João Miguel Tavares, Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Não pude deixar de me rever na sua narrativa e crítica social. De espírito aberto, sem amarras político‑partidárias, ouvi as suas palavras e gostei do que disse.
As reações foram o espectável: os doutos, no cimo da sua sapiência e excecional capacidade em ler nas entrelinhas, consideraram que havia recados para a direita ou para a esquerda, proferido por alguém produto do sistema criticado, populista, salazarento, e que só os tolos, ignorantes ou estúpidos se poderão identificar com as palavras do ignóbil e odioso JMT; os outros, que ouviram a um douto, que consideram (consoante o espectro político-partidário em que se julgam enquadrar), argumentar com palavras caras e conteúdos, grande parte das vezes, inócuos, que nem ouviram ou lerem o discurso, ou que, tendo-o feito, se sentem diminuídos por nele, nalgum momento, se terem revisto; finalmente os tolos, compostos pela esmagadora maioria dos portugueses que, ou não sabem quem é o JMT, ou, sabendo, conseguiram, de mente aberta, sem pré-conceitos ou preconceitos, ter a capacidade de fazer a sua leitura do que foi dito.
Não tenho dúvidas de que fosse outro o orador as críticas não seriam estas, nem de que o próprio JMT trataria de, como douto, fazer as suas cruas considerações.
Rever-se no(s) discurso(s) do JMT não significa subscrever integralmente o que disse. Por exemplo, falou muito sobre o “elevador social” e a ascensão pelo mérito, destacando a importância da educação. Não referiu, nem era espectável que o fizesse, sendo assumidamente votante no PSD, que o sucesso educativo de cada uma das nossas crianças ou jovens radica, e muito, nas condições socioeconómicas das famílias. Uma família com rendimentos baixos é normalmente composta por adultos com menor formação académica. Com os programas curriculares existentes (sempre a mudar, mas sempre dentro da linha do saber e não do conhecimento, do saber-fazer e saber-procurar/interpretar/adaptar) é difícil acompanhar os filhos a partir do 2.º ciclo do ensino básico, até para quem tem formação superior…mas estes, mal ou bem, sempre vão conseguindo pagar explicações, para que os filhos não percam o barco…
Não pretendo aqui fazer uma análise ao que foi dito por JMT, nem justificar‑me porque gostei das suas palavras. Refletem o sentimento de muitos, nomeadamente filhos de Abril. Tolos, por sinal.
Eu, tola, ignorante e estúpida, continuarei a considerar-me como uma cidadã “que todos os dias faz a sua parte para que possamos viver num Portugal melhor e mais justo.”
Ver ou rever, ler ou reler os discursos: