As velhas, as beatas e a valorização interior

excorgitações

Sofia

Num destes fins de tardes, desci de carro por ruelas gastas e deparei-me com duas velhas (caso seja legítimo usar a expressão e amanhã não acorde inundada de críticas de gerontofobia) a varrer o passeio junto às suas casas. E, como sou rapariga pensadora, dei comigo a refletir sobre uma outra geração que olha para o espaço público como a continuação da sua propriedade. Gente de outros tempos, com um civismo que a minha geração esqueceu e insiste em tratar o espaço comum como uma sarjeta coletiva na qual despojam tudo aquilo que não lhes parece interessar. Um tempo em que as beatas iam à igreja e não se jogavam para os passeios.

Mas, como sou gaja de não me cingir ao óbvio, nas minhas inquietações, dei comigo a cogitar no paradoxo de uma geração que trata tão mal o exterior mas que vive obcecada com a aparência. Com efeito, gastamos balúrdios com decoradores de interiores (no meu caso, o meu chama-se Pinterest) mas cada vez valorizamos menos a nossa beleza interior, investimos cada vez menos no conhecimento, na ética e nos valores.

As outras pessoas, não eu, evidentemente. Apetecia-me escrever mais sobre o tema, mas vou agora de férias e preciso de ir à depilação, à cabeleireira, comprar biquínis, um perfume, os protetores solares e mais qualquer coisa que me surja pelo caminho, pelo que, esta crónica fica em minissaia.

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