Igualdade (d)e Género

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  idos de julho

Sónia Calvário

A igualdade (d) e género voltou a estar em foco.

Foi eleita, pela primeira vez, uma mulher, Ursula Von der Leyen, para presidir à Comissão Europeia, órgão executivo da UE, ou seja, para o governo da organização económica e política que, a par dos EUA e da China, domina o comércio (e o poder) mundial.

As campanhas publicitárias, contudo, e talvez porque a perpetuação dos estereótipos de género alimenta o negócio, nem que seja pela polémica que pode potenciar, continuam a investir na toxicidade sexista. Dois exemplos circularam nas redes sociais, levando à formalização de queixas junto da Comissão para a Igualdade de Género. Um deles foi a associação de uma imagem estereotipada e objetificante de uma mulher para a promoção de carne: vaca e coxas de frango. Outro foi o de uma conhecida marca de produtos de higiene pessoal, com slogans a evidenciar preconceitos do século passado, a enaltecer o papel forte, dominador e indestemível dos homens.

Se, por um lado, considero que a publicidade não deve fazer a apologia da distinção entre Homens e Mulheres, excepto, claro, quando se trate de produtos verdadeiramente exclusivos de um dos sexos, como é o caso dos copos menstruais, pensos higiénicos, e similares, não sendo o caso, por exemplo dos perfumes; por outro, considero perigosa a perseguição que se faz em torno da questão da Igualdade em função do sexo e do género.

Não sou adepta da chamada linguagem promotora para a igualdade de género. Porque a expressão não é feliz, pois o que se pretende é a defesa da Igualdade de oportunidades e a não discriminação em função do sexo e do género, que são conceitos distintos: o primeiro baseado na diferença biológica e o outro numa construção social (existem até países que já consideram oficialmente a existência do terceiro género). Por outro lado, e apesar de compreender o argumento de que a nossa língua torna invisível o sexo feminino, não será a alteração do discurso a promover verdadeiramente a igualdade. São, sim, os comportamentos diários, dos mais insignificantes aos mais marcantes. E, acima de tudo, a aceitação dos outros, da sua liberdade e do seu direito à autodeterminação. E aqui são fundamentais todos os agentes socializantes: família, escola, empresas, media…

Mas qual é o limite? Podemos contar uma piada preconceituosa? E rir-nos dela? Podemos oferecer a uma bebé um vestido? E cor-de-rosa? Devemos interpretar a opção de uma mulher que prescinde da carreira profissional em prol da família, como sendo necessariamente corolário da tradição discriminatória homens/mulheres? Desconfiando sempre sobre se a decisão foi uma verdadeira opção?

Temo que o fundamentalismo possa ser contraproducente e criar divisões indesejáveis. Como feminista defendo a Igualdade. Ponto. E isto não me impede, consoante o contexto, de contar ou rir-me com uma piada. Nem impede de me insurgir contra certas campanhas de marketing/publicidade. Empresas e marcas têm uma grande responsabilidade na perpetuação da desigualdade. Têm a obrigação de contribuir para a mudança. Todos temos. Mas temos também o dever de “não julgarmos os outros à nossa imagem”. Parece-me um bom princípio.

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