ars athletica
Mónica Jorge nasceu em 09/06/1978, em Coimbra. Licenciou-se em Desporto e Alto Rendimento na vertente de Futebol e foi a primeira treinada portuguesa nível IV – UEFA PRO. Jogou futsal nos distritais, mas chegou a praticar basquetebol, atletismo, râguebi e halterofilismo, modalidade pela qual representou a seleção nacional no escalão de júnior, tendo arrecadado alguns títulos regionais e nacionais.
Entrou para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para fazer o estágio curricular, e foi convidada a coadjuvar as seleções femininas, a partir da época 2000/2001, o que acumulou com as funções de direção e técnica-adjunta de escalões de formação do FOOTescola de Rio Maior (Núcleo Sportinguista de Rio Maior), até 2003. Em 2007 foi nomeada selecionadora nacional e é, desde 2012, Diretora para o Futebol Feminino da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e membro da Direção Executiva deste organismo.
Faz parte do Comité do Futebol Feminino da UEFA e, aqui, é Delegada para jogos internacionais, além de Observadora Técnica. É membro do Comissão da Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal (COP) e foi membro da Comissão de Treinadores do COP (2013-2016).
Principal responsável pelo crescimento consolidado do Futebol Feminino em Portugal, baseada numa estratégia de apoio às atletas, aos clubes e às competições, transversal ao país, e ao alargamento do número de competições e à sua valorização, Mónica Jorge acredita no futuro promissor do futebol feminino, através do fomento do trabalho em equipa e a mudança da cultura desportiva e social que se tem vindo a verificar, estando, neste início de época, no pódio do Expoente M.
Tem a vida que idealizava?
Não, porque uma vida ideal não é real!!
Normalmente já não idealizo muita coisa. Tenho uma vida de que gosto e todos os dias agradeço as oportunidades que tive e que vou tendo, tentando sempre respeitar e dignificar quem acreditou na minha competência e nos meus valores enquanto pessoa e profissional. Enquanto me sentir bem e feliz no que faço… é a minha vida ideal!
A intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?
Inteiramente de Todos.
A partir do momento em que somos responsáveis por algo ou por alguém, estamos a contribuir para mudanças de mentalidades, quer nas suas formas de estar, quer nas suas formas de atuar ou agir. No fundo, contribuímos todos para a definição de vários perfis nas próximas gerações. Tudo o que somos e o que defendemos no “agora”, vai ter com certeza impacto socialmente no futuro. Pelo menos é isto que eu defendo.
Como vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar?
Difícil, mas quem nos rodeia e gosta de nós só tem de respeitar e compreender este contexto. Nem sempre as vidas profissionais são iguais ou com o mesmo grau de pressão e de complexidade de conflitos ou de sucessos. O tempo de partilha de laços emocionais e familiares é escasso e nem sempre aceitável pelos mesmos, mas a vida é mesmo assim, são escolhas que caberá só a nós saber qual o momento adequado de abrandar ou de o intensificar. A escolha, é totalmente nossa, nunca deverá ser de terceiros.
Na sua vida existe equilíbrio entre a vida profissional, familiar/social?
Uma vida familiar feliz, é certamente vivida com aqueles que nos aceitam, compreendem e aceitam as nossas “escolhas” profissionais e os nossos “estados de humor”. Esta é certamente a base do nosso equilíbrio emocional e profissional.
Neste momento, estou a caminhar para esse equilíbrio seja ainda melhor e maior… porque também é o desequilíbrio que nos alerta para a necessidade de melhoria do mesmo.
Na minha vida já tive bastantes “desequilíbrios” que me obrigaram a refletir cada vez mais sobre a sua importância e sobre o impacto que tem em nós, a médio e a longo prazo. Hoje em dia agradeço por todos eles.
Já sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?
Sim, mas em poucas situações, em certos momentos de tomada de decisões por terceiros… há sempre um “senão”, uma desconfiança, pouca certeza no diagnostico elaborado pela “mulher”. Se o mesmo diagnostico for elaborado pelo “homem” as dúvidas são menores, sendo a tomada de decisão mais rápida. É um problema cultural e que depende também dos diferentes contextos sociais onde estamos inseridos. Não vivi estas situações em todos os contextos onde estive inserida, felizmente!
E como dirigente associativa, sente, ou já sentiu, dificuldade na sua afirmação e/ou na compatibilização com a vida profissional e familiar?
Todos nós temos essa dificuldade, sejam homens ou mulheres no dirigismo, muitas das vezes estão em nós as nossas próprias barreiras e vemos os nossos “fantasmas” em todo o lado, não aceitando que essa parte, muitas das vezes é o que nos condiciona mais do que qualquer outro fator externo enquanto dirigente.
É também difícil aceitar que um ato inapropriado veio de nós e não dos outros, essa é a maior barreira de todas. Dizer “Obrigado” e “Desculpa” é considerado por muitos dirigentes um ato de fraqueza, e hoje em dia são duas palavras cada vez mais essenciais no nosso crescimento e no nosso “humanismo” enquanto profissionais, e é tão simples dizê-las e senti-las! Mas como disse anteriormente, o fator cultural no nosso país ainda faz com que se “duvide” da mulher em muito cargos políticos ou socioecónomicos. Mas é uma barreira que facilmente irá ser ultrapassada pela competência e excelência das mesmas, criando-se melhores e maiores referências a nível nacional e internacional. Precisamos cada vez mais destes bons exemplos.
São as melhores referências que provocam mudanças na nossa cultura e geração vindoura. Independentemente das dificuldades “emocionais” que se possam identificar ou adivinhar eu acredito sempre que a próxima geração vai ser melhor, em tudo.
As mulheres partilham pouco, guardam muito para si?
Depende dos assuntos, das envolvências, dos medos que rondam o contexto profissional e pessoal. Tanto eles como elas falam e partilham o que devem ou não… não acho que seja uma característica das mulheres, guardar muito para si, mas sim de perfis, de personalidades. Eles também o fazem, talvez até mais que as mulheres relativamente a alguns assuntos. Eles vivem, sentem e sofrem como nós.
O que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?
A Educação de um país.
Quanto maiores forem os valores educacionais aplicados na família, na escola, no desporto e no meio profissional, maior será o direito e o respeito pela paridade. Nenhum pai ou nenhuma mãe quer ou vai criar os seus filhos com diferenças de género ou com desigualdade de tratamento. Crianças que crescem com estes valores serão melhores adultos no futuro, certamente.
Como podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?
A Mulher tem a maior “arma” de todas para combater a desigualdade, a educação dos seus filhos, que serão os adultos do amanhã.
Adultos mais amados, mais confiantes em si mesmo, com maior equilíbrio emocional, com maior resistência à adversidade, com maior respeito e consideração pelo próximo, menos egocêntricos e menos violentos, mudarão os efeitos culturais atualmente existentes.
Qual é o seu maior sonho?
Continuar a fazer outros sonhar…
O meu sonho é o sonho de muitos daqueles que ajudo no dia a dia. Quando alguém que eu ajudo realiza um dos seus sonhos… eu realizo-me!