Rosa é uma jóia de pessoa

A Rosa

Madalena Palma

 

A Rosa era uma jóia de pessoa. Filha da terra e de gente boa era a mais nova numa casa cheia de vida. Cedo mostrou ser pessoa de personalidade forte. Destemida, rebelde e por vezes até selvagem nunca permitindo que um tronco mais fino ou frágil a impedisse de subir à árvore mais alta. Rosa sempre acreditou que a força estava nas suas asas e não nos ramos e troncos que sempre serviram de trampolim para poder alcançar a posição ou lugar que sentisse que fosse o seu. Não necessariamente o mais alto mas aquele que lhe desse o sustento e a firmeza para poder apreciar mais de perto o voo dos pássaros, ou o cheiro das copas, ou apenas que lhe permitisse vislumbrar o horizonte na sua plenitude.

Rosa cresceu feliz sem nunca ter tido a vida facilitada. Lutadora nunca se deixou vencer, render, convencer ou resignar ao que a vida lhe dava. Perdeu o foco algumas vezes. Talvez fruto da sua rebeldia, mas nunca perdeu a firmeza das passadas. Dedicou muito da sua vida a ajudar os outros. Os outros. Aqueles que ela tão bem conhece por nunca se ter distanciado ou desviado o olhar. Apenas, de forma altruísta permitia que fizessem parte da sua vida. Alguns por breves momentos, outros por anos. Sem ter nada em troca. Em vários momentos teve deceções mas isso nunca a impediu de fazer o que achava ser o mais correto. Só quem conhece o que lhe corre nas veias sabe desse seu lado e algumas vezes o conheceu por algum descuido da sua parte. Não gosta da propaganda da ajuda. Não gosta da hipocrisia ou falsa modéstia. Nela foi nascendo a vontade de fazer mais e mais e assim foi descobrindo o lugar que o mundo tinha para si. Também ele cheio de altos e baixos, ramos firmes e frágeis, engrenagens cheias de areia e marés contrárias. Mas como nas árvores da rua onde cresceu, cada um desses obstáculos serve de incentivo e consolidam ainda mais o quanto quer fazer.

Rosa ama a sua terra. A ela tem-se dedicado. Nunca se meteu em guerras, políticas, a discutir buracos na rua ou ervas fora dos canteiros. Rosa sempre achou que a sua cidade ficava muito aquém daquilo que tinha. É claro que o problema não estava nunca nas paredes por pintar, nos edifícios vazios, nas lojas fechadas ou no calor nas ruas. O problema sempre foi a população. As pessoas. Vivem resignadas ao que têm agoirando o que os outros alcançam. A cidade da Rosa era assim. Ou seja, nada diferente de qualquer outra cidade onde vivem pessoas. E, sem dúvida, que o que melhor caracteriza as pessoas são os clichets: “Não fazem e não deixam fazer”; “se faz é porque faz, se não faz é porque não faz”;  “este ainda é pior que o outro”; “deve haver alguma coisa por trás”; “querem saber da última?”. Todos estes clichets passeiam diariamente no centro de qualquer cidade e a cidade da Rosa não é diferente. Mas tem tudo para ser e poderia ser uma cidade com clichets diferentes, do tipo: “se saíres da frente já ajudas”; “posso ajudar?”; “muitos parabéns por fazeres…”; “bora, mãos à obra”.

A Rosa é uma jóia de pessoa. Moça nascida e criada numa terra que ama e é nas suas calçadas que pisa firme emanando a cada dia uma energia que retém de cada sonho. Passo a passo concretizará cada um deles.

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