Pensando alto
Sónia Calvário
Portugal vivenciou alguma paz social nos últimos anos, fruto do entendimento parlamentar que se verificou entre o PS, que nos governou deste 2015, o BE, o PCP e o PEV. Assim, a espectativa da vitória eleitoral do PS concretizou-se.
Na verdade, o que me leva a escrever estas linhas prende-se mais com o resultado obtido no distrito de Beja, onde o PS passou a contar com mais um deputado, perdendo o PSD o eleito em 2015, e mantendo a CDU (PCP+PEV) um deputado dos 3 que o círculo elege.
Não sendo surpreendente, não deixa de causar alguma inquietação, considerando que grande parte da população bejense, em especial a do concelho de Beja, capital do distrito, demonstra, e justamente, alguma revolta pelo abandono e desrespeito que os sucessivos governos têm manifestado pela região e pelas suas gentes. É certo que no círculo, desde as últimas legislativas, se perderam mais de 5900 eleitores, cresceu a abstenção (acima do verificado no território nacional), aumentaram os votos brancos, em número e em percentagem, bem como a percentagem dos nulos, e cresceram os votos nos denominados “pequenos partidos”; factos que, de acordo com o sistema eleitoral vigente, e consequente aplicação do método D´Hondt, dificilmente poderia levar a resultado diferente.
Contudo, não posso deixar de olhar para o panorama e pensar no “efeito manada”, há muito estudado e que é altamente exponenciado pela atual sociedade de informação, ou melhor, como refere Gilles Deleuze, “sociedade de controlo”: modelo social que se segue à “sociedade disciplinar” (Foucault1), amplificando-a, por já ter sido interiorizada a disciplina, “pelo medo, o julgamento e a destruição”; baseia-se no facto de os indivíduos serem atualmente mais móveis e flexíveis; e é garantida pela vigilância contínua, pela qual “todos podem espiar todos”, e pela disseminação da comunicação em massa (como os órgãos de comunicação social ou as redes sociais) de uma determinada forma de ser, pensar e sentir, o que muito releva numa era em que o “sou visto, logo existo” (Quinet) substituiu o “penso logo existo” (Descartes).
O “efeito manada” refere-se a situações em que os indivíduos reagem de forma semelhante, mesmo sem se darem conta, apenas pela pressão exercida pelo grupo. Para o comportamento confluem fatores físicos e neurológicos, mas também psicológicos, como “a necessidade de aprovação, de pertencer a um grupo e o medo do castigo”2. A temática tem sido objeto de estudo também no que respeita à sua influência no voto, concluindo-se pela sua verificação. Preocupante é a forma como cresce atenta a massificação da comunicação, nomeadamente através das redes sociais, pela disseminação de fake news e pela facilidade do ataque à distância, anónimo ou através dos robots.
Segue um vídeo que ilustra o efeito manada de forma muito simples: