O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Se há amores que brotam à primeira vista, surpreendentes e arrebatadores, outros existem que nascem do conhecimento, da repetida observação, da perceção de um conjunto de pequenas seduções não visíveis a olho nu, apenas consentida pelo firmar do tempo. E não se pense que estes são menos encantadores ou intensos que os primeiros, são sim, seguramente, mais sólidos. Assim é o meu amor com The Rolling Stones.
“She’s a rainbow” integra o álbum de 1967 “His Satanic Majesties Request” e foi considerada a “música mais bonita e menos característica” que Mick Jagger e Keith Richards escreveram para os Stones, embora não deixe de ter uma leitura que podemos considerar… ambígua.
Numa época em que as bandas mais populares abraçavam abertamente o LSD e depois dos sucessos de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (The Beatles) e “Pet Sounds” (Beach Boys), também os Stones quiseram enveredar pelo rock psicadélico e fizeram-no lançando “His Satanic Majesties Request”.
É neste quadro de psicadelismo, alimentado pelo consumo desenfreado de álcool e drogas, que se projetam as possíveis interpretações desta canção.
Numa primeira leitura podemos pensar que é uma celebração da mulher livre e afirmativa que não tem medo de brilhar, o que em 1967 não era assim tão comum, ou até uma rara canção de amor puro dos Rolling Stones, cujas músicas sobre mulheres tendiam a ser muito mais libidinosas.
Contudo, o que seriam The Rolling Stones sem essa líbido? Pelo que a interpretação que mais colhe é, apesar de tudo, pouco surpreendente… “She’s a rainbow” será sobre sexo sob os efeitos de LSD.
A arte é sempre subjetiva e pouco interessa se Jagger e Richards se referiam ao amor puro e romântico ou à lascívia carnal, “She’s a rainbow” soa amor e a sexo, soa a sexta e a quinta-feira. Soa a felicidade, até para a miúda monocromática que ainda procura sofregamente o fim do arco-íris.
Uma das minhas canções favoritas. Aqui se demonstra como é possível fazer uma melodia maravilhosa com som de instrumentos musicais, misturados com batidas de relógios e som de caixinhas de música. Uma delícia.
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