O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
A voz de Waits foi descrita pelo crítico musical Daniel Durchholz como parecendo “ter estado embebida num barril de bourbon, pendurada no fumeiro por alguns meses e depois posta na rua e atropelada por um carro”.
O cantor, compositor e ator americano de 69 anos, conhecido pela sua voz grave e rouca tem repartido pelo cinema e pela música uma carreira aclamada pela crítica.
“I hope that I don’t fall in love with you” integra o álbum de estreia de Tom Waits “Closing Time”, lançado em 1973, e é uma das favoritas dos fãs de Waits. Ao feeling da sonoridade folk junta-se a profunda intensidade emocional de uma história simples, como devem de ser todas as histórias de amor. Mesmo aquelas que, como a que canta Waits, ficam por acontecer.
Nesta música, Tom Waits retrata um homem que contempla uma desconhecida num bar e que, por medo de se vincular ao amor, deixa-a partir sem a abordar.
“I hope that I don’t fall in love with you” soa whisky e a fumeiro, a lareira e a óleo de motor queimado, a livros antigos e a cinza de cigarro, a chuva e a bares à sexta-feira. Soa a amor e soa a medo!
Li um dia, que o contrário do amor não é o ódio mas o medo. Esta frase tanto pode ter sido dita por um coordenador de um qualquer estudo sobre o comportamento humano numa reputada universidade ou então por uma de duas amigas que, à mesa de café, lutam por decifrar os infindáveis mistérios do amor.
Ao deparar-me com a inatacável descrição de Durchholz sobre a voz de Tom Waits, não pude deixar de pensar – E quem nunca se sentiu como a voz de Waits perante os pavores provocados pelas possibilidades do amor?
Mas o amor não se deve temer, o amor amacia, o medo endurece. O amor abre-te o universo, o medo apequena-te. O amor liberta, o medo mantém-te preso em ti. E ninguém precisa de prisões à sexta-feira, só de amor… e de um copo de bourbon!