excorgitações
Sofia
Desde que me lembro de me lembrar, que o outono para mim sempre foi contemplativo. Encerrado o verão, o regresso à normalidade do quotidiano vem acompanhado de introspeção interior (umas listas que anualmente faço, que refaço em janeiro e jogo fora em abril, para recuperar em outubro e enterrar no lixo em abril) com promessas de novas metas que olimpicamente falho a cada ano que passa.
E, coincidindo este outono com umas eleições legislativas de magna importância, congratulo-me com a maturidade de um povo com uma imensa dimensão cívica que sabe distinguir o joio do trigo centrando-se nas questões fulcrais para o desenvolvimento da prática, mormente:
– o assessor (ou acessor, de acordo com o novo acordo ortográfico do facebook) que vai para o parlamento de saia e meias que não são de licra (de todas as teses que li, deixou-me quase húmida a teoria da opressão da mulher negra sobre o homem branco e a influência nociva do neofeminismo liberal);
– a importância sociopolítica da gaguez real ou ficcional (as teses de ciência política de maquiavel aplicadas ao ato de gaguejar: uma escolha ou inevitabilidade);
– as portas de Ventura: uma análise aos caminhos do nacionalismo (o que sempre é mais interessante do que procurar perceber como as portas do parlamento se abriram ao populismo e qual a importância da demagogia das redes socias neste processo);
– o do costa é maior do que o dos outros: afinal o tamanho conta (e depois perguntamos indignados como nasce o populismo);
– onde sentar os pequeninos (aqui saúdo o gesto simbólico de explicar que os pequeninos devem ir no banco de trás);
E, a minha preferida, que me deixa sempre excitada:
– quando é que os portugueses vão aprender a colocar as suas cruzes no local certo: uma diáspora sobre os constrangimentos democráticos do estrabismo e da dislexia (porque só isso explica que os meus não ganhem sempre apesar de serem infinitamente melhores que todos os outros, como todas as pessoas inteligentes sabem).