Maria Lobo no pódio

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ars atletica

Maria Lobo nasceu em Lisboa, a 17/02/1987. É licenciatura em Design de Comunicação e o gosto pela Banda Desenhada levou-a a tirar um curso na Faculdade de Belas Artes.

Pratica Muay Thai desde os 13 anos, e iniciou a competição aos 17, sendo lutadora profissional há 8 anos, a primeira mulher a fazê-lo a tempo inteiro. Recentemente assinou contrato com a prestigiada GLORY, uma das três principais organizações mundiais de eventos de Kickboxing e K1,sendo a primeira vez que um atleta nacional integra a equipa.

Maria Lobo foi também a primeira atleta portuguesa de Muay Thai a representar o país nos Jogos Mundiais de 2017 (Polónia), que decorrem um ano depois dos Jogos Olímpicos de Verão e contempla modalidades não olímpicas, mas reconhecidas pelo Comité Olímpico Internacional que, aliás, atribuiu, provisoriamente, o estatuto olímpico à modalidade no final de 2016, decorrendo ainda o prazo (3 anos) para a formalização da candidatura, que, se for aceite, poderá fazer integrar o Muay Thai na maior e mais prestigiada competição desportiva mundial. Foi ainda a primeira portuguesa a participar no mega evento tailandês World Muaythai Angels, decorrido na Tailândia, que constituiu um marco para o sexo feminino neste desporto por ter sido o primeiro exclusivamente feminino no país de origem desta arte marcial.

É atleta de alta competição, reconhecida pelo COP e IPDJ e faz parte das 10 melhores lutadoras internacionais da disciplina, sendo detentora de diversos títulos internacionais: 4 medalhas de ouro e 2 de bronze em campeonatos mundiais, 1 de ouro e 2 de prata em campeonatos europeus e vários importantes títulos na modalidade, como o de campeã mundial de K1 PRO, em 2013. O mérito desportivo já foi reconhecido por diversas vezes e distintas organizações, como a Confederação do Desporto de Portugal e a Federação Portuguesa de Kickboxing e Muay Thai.

Maria Lobo, que em criança “era uma miúda muito feminina”, que adorava brincar com as suas barbies, “tudo o que era brilhante e cor-de-rosa”, queria ser bailarina, iniciou a prática formal de desporto no Judo e, mais tarde no Muay Thai, pela mão da mãe. Acabou por, como diz, tornar-se “numa maria-rapaz” apaixonada por desportos de combate. A atividade desportiva, incutida pelos pais, esteve sempre presente na sua vida e na dos seus irmãos. Fez alta escola equestre, judo, natação, rollerblading, surf, snowboard, Muay Thai e recentemente entrou para o Mondioring, tornando-se, mais uma vez, na primeira mulher em Portugal a participar numa prova oficial.

Treina com Diogo Calado, seu namorado, que conheceu, em 2007, num Mundial, na Tailândia, onde ambos participaram, também detentor de diversos títulos na modalidade, com quem vive, há quase 12 anos, juntamente com os seus dois cães rafeiros “que lhes dão cabo do juízo mas que não trocaria por nada”, constituindo ambos dois dos melhores atletas a nível mundial, e os primeiros a viver exclusivamente deste desporto em Portugal.

Maria Lobo que diz ser, fora do ringue, “uma designer gráfica, de temperamento volátil, que ama animais, viajar e programas sobre noivas” (risos) está no pódio do Expoente M este mês.

logoM Tem a vida que idealizava?

No passado idealizei uma vida muito diferente. Já quis ser médica, já idealizei ser designer (tenho uma Licenciatura em Design de Comunicação) mas nunca pensei ser lutadora profissional.

O Muay Thai surgiu na minha vida por acaso e foi uma paixão que se foi desenvolvendo.

Quando comecei a treinar nem pensava ser possível fazer disso vida mas com o passar do tempo, e com um namorado que me incentivou a arriscar, aqui estou eu, a realizar uma vida que idealizo desde que fiz a opção de lutar por ela.

logoMA intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?

Claro que sim. Sociedade é um conjunto de indivíduos que compartilha propósitos, preocupações e costumes e que interagem entre si formando uma comunidade. Sem essa intervenção/participação este conceito de comunidade deixa de existir e torna-se impossível evoluirmos inclusive a nível individual.

logoMComo vê a conciliação, atualmente, da vida profissional/desportiva e familiar/profissional?

Fazendo do Muay Thai a minha vida, a parte profissional e desportiva, acaba por ser a mesma.

A vida de atleta é muito exigente e requer muita dedicação e sacrifícios. Se queremos evoluir e atingir os nossos objectivos temos muitas vezes de abdicar da nossa vida social e familiar.

Por sorte o meu namorado é igualmente lutador profissional e isso acaba por nos permitir estar juntos a maior parte do tempo e por facilitar a compreensão de certas escolhas e privações uma vez que ambos as temos de fazer.

logoMNa sua vida existe equilíbrio entre essas várias áreas da sua vida?

Dentro das condicionantes que referi na pergunta anterior e graças ao facto de a minha família compreender e apoiar este meu modo de vida posso dizer que existe equilíbrio.

Sempre que tenho oportunidade tento compensar todas as vezes que não pude estar presente já que a família é uma base muito importante na minha vida.

logoMJá sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher? 

Sim. No nosso desporto o estigma de ser mulher ainda está muito presente. Por vezes não de forma consciente, noutras com toda a intenção.

Em qualquer evento é habitual que em 10 combates apenas um seja feminino, e isto porque o público ainda prefere assistir a um combate entre homens.

Também a nível de cachet ainda existe uma disparidade enorme e não é difícil uma mulher receber ¼ daquilo que pagam a um homem, tendo em conta que ambos se encontram no mesmo nível profissional.

logoM E como atleta, sente, ou já sentiu, dificuldade na sua afirmação e/ou na compatibilização com a vida profissional e familiar?

Não. No início foi estranho para todos eu querer seguir uma carreira com um futuro incerto e cujo ordenado depende inteiramente dos combates que faço (que na realidade rondam os 6 combates por ano) mas nunca deixaram de me apoiar e respeitar as minhas escolhas.

logoMAs mulheres partilham pouco, guardam muito para si?

No geral não sei mas eu já guardei mais.

Em relação à minha família sempre fui muito de expressar os meus sentimentos, dificuldades, indecisões… porque sempre tive muito apoio e compreensão. Para as pessoas de fora nunca fui muito aberta até há bem pouco tempo.

Há cerca de um ano e meio sofri uma paralisia facial. Segundo o médico, deveu-se a uma baixa no meu sistema imunitário causada principalmente pelo stress. Este acontecimento fez-me refletir sobre muitas coisas mas houve uma em especial, a tortura que muitos de nós sofre em silêncio. 

Foi-me diagnosticada depressão crónica aos 17 anos. Tenho de tomar medicação diária para o resto da minha vida e mesmo esta não evita a ocorrência esporádica de períodos mais “negros” na minha vida. Pensei em todos aqueles que travam esta batalha diária, muitos sem ajuda, e decidi começar a falar acerca da depressão e a tentar explicá-la de forma a que outros a possam compreender melhor quebrando um pouco do estigma.

Passei a escrever, nas minhas redes sociais, sobre aquilo por que passo e como podem ajudar outros que se encontram na mesma situação.

Passei a partilhar uma faceta minha vida que quase ninguém conhecia na esperança de poder fazer a diferença na vida de quem precise.

logoMO que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?

É preciso que não deixem de lutar por esse direito. Temos de ser persistentes e de acreditar que um dia isso irá passar a ser a norma.

logoMComo podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?

Do meu ponto de vista se todos os dias batalharmos afincadamente pelas mesmas oportunidades e mostrarmos a nossa determinação e capacidades estamos a afirmar uma posição e a exigir o nosso direito a sermos iguais.

logoMQual é o seu maior sonho? 

Vai soar a cliché mas a verdade é que estou a viver o meu maior sonho. Sempre procurei ser feliz e realizada e, neste momento, posso dizer que o sou.

 

Títulos/Prémios:

– Título “Le Choc Des Legendes”, França/2017.
– Título “Battle Of Lund”, Suécia/2016.
– Medalha de Prata no Campeonato Europeu da IFMA (54kg) – República Checa/2018.
– Medalha de Bronze no Campeonato Mundial da IFMA (54kg) – México/2018.
– Medalha de Ouro no Campeonato Europeu da IFMA (54kg) – Croácia/2016.
– Medalha de Ouro no Campeonato Mundial da WMF (57kg) – Tailândia/2016.
– Medalha de Ouro no Campeonato Mundial da WMF (57kg) – Tailândia/2015.
– Medalha de Ouro no Campeonato Mundial da WMF (57kg) – Tailândia/2014.
– Medalha de Ouro no Campeonato Mundial da WMF (57kg) – Tailândia/2013.
– Título WTKA Campeã Mundial K1 PRO (58kg) – Itália/2013.
– Medalha de Prata no Campeonato Europeu da IFMA (57kg) – Itália/2010.
– Medalha de Bronze no Campeonato Mundial da IFMA (57kg) – Tailândia/2010.

– Mérito Desportivo (2016) – Confederação do Desporto de Portugal.
– Mérito Desportivo (2016 e 2018) – Federação Portuguesa de Kickboxing e Muay Thai.

– Melhor atleta do Ano (2017) – Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.

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