A Rosa
Madalena Palma
Comprei-a porque a achei linda. Eram 3,5€ de planta. Num vaso mínimo que praticamente cabia na palma da mão e as folhas eram mais pequenas que as minhas unhas. Tinha um verde lindíssimo e acho que foi a sua cor que me conquistou. Não tinha lugar nenhum pensado para ela. E sabia de antemão que eram inúmeras as probabilidades de nunca vingar. Com três gatos em casa não há planta que dure. Principalmente o macho Kiko cuja missão nesta vida é destruir tudo o que apanha à frente e moer a cabeça das manas mais velhas. Mas ainda assim comprei-a. Não era por 3,5€ que caía o mundo. No caminho foi logo parar ao chão. Andou às voltas no chão do carro. Mas parecia chegar sã e salva. Coloquei-a na janela da casa-de-banho. Pareceu-me ser o lugar onde era menos provável os gatos irem espreitar. Pensei que entre a humidade dos duches e as investidas dos gatos ainda fosse ali o lugar que mais lhe desse longevidade. Mas foi morrendo aos poucos. Ia perdendo as folhas mínimas e minúsculas. Cada vez eram menos e os míseros caules iam ficando cada vez mais escuros adivinhando um desfecho fatal. De vez em quando lá a regava mas ia-me convencendo de que não valia a pena investir muito ali, porque o verde que me conquistou já só restava na memória. Acabei por a abandonar e fui-me esquecendo da sua existência. Passaram-se meses e a única coisa que fazia naquele mísero vaso era levantá-lo para limpar o pó da janela. Mas nunca tive coragem de o colocar no lixo. Vá se lá saber porquê. Até ao dia em que olhei para aquela amostra de vida e lhe arranquei tudo o que me parecia morto. Acabou por ficar sem nada. A não ser a terra seca. Reguei com poucas gotas. Todos os dias regava com umas gotitas. Poucas. As únicas e suficientes que me davam esperança de ver dali renascer alguma vida. Ao final de duas semanas surge um ínfimo tronco a romper tímido a terra. Atrás desse vieram outros e com eles a força das folhas. Verdes. Renascida da aridez. Hoje já sei dizer que é uma trepadeira bonsai. E vai ganhando forma e vida e sabem porquê? Porque houve alguém que nunca desistiu dela. Que a única coisa que fez foi cortar o que a empobrecia pela raiz e regar com fé. Não a fé de algo divino mas com a fé de que algo bom podia vir dali. E veio. E renasceu. E está linda e a fazer brilhar uma janela que todos os dias acolhe a manhã de frente. Esta podia ser uma metáfora sobre a vida e os sonhos mas é apenas a história da minha pequena e tímida trepadeira que mais não fez do que a sua missão. Não se resignou ao que lhe era dado e agarrou a oportunidade de fazer de forma brilhante aquilo que é seu dever e missão.
Bem patusca, a plantita.
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