excorgitações
Sofia
Nunca gostei do natal, apesar de não ser extremista e achar que boas festas só no corpinho todo. Compreendo o fascínio e o encanto que provoca a milhões de pessoas (e não sou gaja para achar que eu tenho razão e o resto do mundo está enganado) e, antes de a gravidade me atacar cobardemente, era miúda para exibir os meus decotes no jantar de Natal da empresa, numa espécie de prenda de natal para os gulosos esbugalhados que passavam o ano a salivar-me com o olhar.
Apenas gosto das luzes. E das músicas tolas que me fazem sorrir. Era miúda para deixar aqui escrito todos os lugares-comuns sobre o consumismo e o império colonialista da coca-cola, dos telemóveis e do rato mickey, mas também sou miúda para gostar de receber presentes. E, nem me importo que sejam caros, porque gosto tanto de uma futilidade como outra fútil qualquer.
Sim: é verdade que tudo é hipocrisia, que o natal podia ser todos os fins-de-semana, que a malta vai feita louca para os centros comerciais, que as árvores de natal destroem a floresta, mas comove-me amiúde alguns gestos de natal e esforço-me por acreditar que quiçá a natureza humana não esteja definitivamente condenada e que a decência ainda passeia em algumas das nossas ruas, calcorreando ruelas onde ainda vive a esperança.
Sim: não gosto do natal, mas frequento-o e, algures pela noite, refugio-me num copo de vinho (ok, dois copos de vinho), acendo um cigarro e faço os preliminares da reflexão de ano novo. Se chorei e se sorri, se tive ilusões e desilusões, se tive momentos fantásticos e outros que prefiro não recordar, se aprendi algo novo (ou se esqueci algo que deveria deixar guardado em mim), enfim, se vivi ou se apenas existi. E, este ano, minhas amigas, foi deliciosamente esquizofrénico. Beijos e abraços, com boas festas…