Elsa Marina Galamas Bicho nasceu em 28/09/1977 e é natural de Beja. Estudou Ciências da Comunicação, na Universidade do Algarve, e, depois de integrar a redação da Rádio Voz da Planície, decidiu ir para Lisboa tirar curso de aperfeiçoamento em rádio no Cenjor. Acabou por ir estagiar no jornal A BOLA, onde permaneceu 18 anos, como jornalista desportiva. Assinou inúmeras páginas de histórias, sendo a reportagem o seu estilo jornalístico de eleição. Recentemente foi diretora de Comunicação do Casa Pia Atlético Clube (Liga Pro) e o seu primeiro livro, ‘O porteiro do Elefante Branco’, foi lançado em novembro último.
Elsa Bicho é mãe da Caetana, com 9 anos, mulher do diretor geral da Belenenses SAD, filha mais nova do Sr. Bicho da conhecida loja bejense Louça dos Compadres, e é a Senhora que se segue no Expoente M.
Tem a vida que idealizava?
Não. Não tenho do que me queixar mas também não nos devemos contentar, certo? Sou feliz no papel de mãe de uma Caetana que é um furacão em forma de criança. Já vivi muitas pequenas conquistas, sendo isso a que chamamos felicidade, ou não? Pequenos momentos, pequenos prazeres e consagrações. A vida que idealizava, ao deixar o Alentejo, seria de transformar-me numa renomada pivot de televisão. Tal nunca consegui. Mas o meu caminho trilhou-se de outra maneira que igualmente me envaidece. Não idealizo grandes luxos. A vida que, sim, idealizo é a de passar os dias a rir e a gargalhar, que é o que mais prazer me dá. E isso não pode acontecer sempre!
A intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos?
De todos, sem exceção. Não podemos demitir-nos dessa função, porque existimos e a sociedade somos todos nós. Cabe-nos o papel de a transformarmos para que tenhamos qualidade de vida, oportunidades de sucesso e vivamos bem para deixar legado.
No seu caso como a pratica?
Recentemente comecei a fazer voluntariado, testemunhando de perto a realidade dos sem abrigo. Sou ainda vice presidente de um clube de bairro na Amadora – o Centro Desportivo Cultural e Recreativo dos Moinhos da Funcheira, associação que dinamizamos a pensar numa comunidade mais enérgica e no desporto (ginástica acrobática) para as nossas crianças. Tento ainda participar de eventos na minha área da comunicação e desporto de acordo com os intervalos das minhas obrigações profissionais.
Como vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar/social?
Sei bem o que é a ginástica de ter de dar conta de tudo e sei bem o que foi ter de optar por não conseguir conciliar todas essas esferas. Deixei o jornalismo para poder acompanhar a minha filha. Só cá tenho os meus sogros, pessoas de idade, os meus pais estão em Beja, e, sendo jornalista de A BOLA, não tinha fins de semana ou feriados, nem conseguia ir buscar a miúda à escola ou aos treinos de acrobática. Tive de vir para casa para poder estar com ela. E não me arrependo. Mas, nessa altura em que a Caetana começou a escola primária, não havia hipótese de chegar a tudo, até porque o pai dela também é agente de futebol, ou seja, vive com total desnorteio de horários. Agora a minha prioridade é a Caetana. Talvez um dia volte ao jornalismo, talvez continue a escrever livros, talvez volte a ser diretora de Comunicação de um clube de futebol…
Na sua vida existe equilíbrio entre a vida profissional e familiar/social?
Tive de procurar esse equilíbrio. Tive de abdicar da paixão que sempre foi o jornalismo pelo amor maior que é a família. Dói? Dói, mas vale a pena. E nas adversidades surgem as oportunidades. Como foi o Casa Pia Atlético Clube. Como foi o meu primeiro livro ‘O Porteiro do Elefante Branco’. Aguardo serenamente por nova oportunidade, certa de que esse equilíbrio de que fala tem de ser primordialmente acautelado.
Já sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?
Nunca. E atenção que sempre andei num mundo de homens. E comecei há 20 anos. O futebol deixou, entretanto, de ser tão machista mas chegar aos campos de futebol e tentar causar boa impressão para assegurar um bom trabalho não foi, de início, tarefa fácil. Naturalmente, havia sempre algumas boquinhas menos felizes. A verdade é que com respeito, simpatia e humildade consegue-se tudo. Ser mulher ou homem passa para segundo plano porque sobressai o profissional. Nunca senti condicionalismo algum.
As mulheres partilham pouco, guardam muito para si?
No meu caso, não. Gosto muito de partilhar acontecimentos pessoais, falo muito, tenho muitos amigos, não consigo esconder nada! Então nos segredinhos sou péssima! Mas concordo que muitas de nós, ou por receio ou insegurança, se assumem pouco, opinam pouco. Não será defeito mas feitio. E, diga-se em bom da verdade, a era digital veio revolucionar tudo isso. Agora todas comunicamos nas redes sociais. Expomos tudo. Muitas inverdades também…
O que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade?
Só precisamos de continuar a dar mostras do nosso potencial e qualidade. Cada vez há mais mulheres nos altos quadros de empresas, cargos políticos e frentes sociais. O género já não é requisito. Capacidade, sim. Contra factos não há argumentos. A igualdade depara-se-nos já no dia a dia.
Como podem as mulheres contribuir para a concretização dessa Igualdade?
Mostrando do que são capazes. Intervindo. Opinando. Desafiando. Brilhando!
Qual é o seu maior sonho?
Gostar um pouquinho mais de mim própria.