O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
As dependências têm como característica central a falta de controlo do impulso que leva o indivíduo a consumir uma substância, de forma contínua ou periódica, para obter prazer ou satisfação, colocando não parcas vezes em causa o seu bem-estar físico e emocional.
Só quem nunca se apaixonou pode duvidar que o amor é uma das drogas que maior dependência causa. Quem o sabe, e não tem dúvidas em proclamá-lo, é Bryan Ferry.
“Love Is the drug” é um single de 1975 do álbum “Siren”, quinto álbum de estúdio da banda inglesa Roxy Music.
O tema é certamente um dos mais populares dos Roxy Music, alcançando o número dois do “Singles Chart” no Reino Unido, apenas mantido fora do topo com o relançamento de “Space Oddity”, de David Bowie. Mais tarde, em 1981, os Roxy Music alcançariam o primeiro lugar da tabela com a cover de “Jealous Guy” de John Lennon.
“Love is the drug” foi a confirmação da brilhante e inimitável capacidade dos Roxy Music criarem um ambiente superlativo de romance lúbrico.
A ideia da música começou com um instrumental de Andy Mackay (saxofonista da banda) sendo Bryan Ferry o responsável por criar a letra. Tanto lírica como musicalmente “Love is the drug” emana uma certa elegância decadente que é fácil encontrar à sexta à noite.
A cativante batida metálica foi atmosfericamente compensada por uma envolvente linha de saxofone que, estranhamente, combina na perfeição com a alegre discórdia das urbanas buzinas que pontuam a canção. Porém, em “Love is the drug” é a pulsante linha de baixo, a cargo de John Gustafson, que sobressai e se afirma como coluna vertebral da canção.
A música é uma das incluídas na seleção “The Rock and Roll Hall of Fame’s 500 Songs that Shaped Rock and Roll” e a sua linha de baixo figura no vigésimo sexto lugar da lista “Top 50 Basslines of All Time” divulgada em 2005 pela revista Stylus.
“Love is the drug” remete-nos para a interminável e cinematográfica emoção da vida e do amor nas ruas da cidade e soa a carros a partir e a luz púrpura, a olhares provocantes e a gins tónicos, ao virar de esquinas e a encontros de casa de banho, soa a amor e soa a urgência.
É sexta-feira, evitemos a ressaca da abstinência e entreguemo-nos ao impulso em doses excessivas… porque no amor não haverá nunca lugar para terapêuticas de substituição!