O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Gentle, tall and intelligent – diria que são adjetivos que me assentam bem. Isso da modéstia está cada vez mais em desuso e nada como um bom marketing pessoal para sobreviver às selváticas exigências do amor moderno. O problema é que, no fundo, quem é que quer um GTI? É que isto do amor, como bem nos explicam os Clã, funda-se em muito mais do que altos desempenhos.
Os Clã formaram-se em Novembro de 1992 e em 1995 assinaram um contrato discográfico com a EMI-Valentim de Carvalho iniciando nesse mesmo ano as gravações do seu disco de estreia “LusoQUALQUERcoisa”. Porém, e ao contrário do esperado, o disco quase não vendeu e a banda portuense praticamente não foi convidada para concertos.
O insucesso do primeiro disco levou os Clã a fazerem uma profunda autoanálise e a infletirem o caminho que se propunham trilhar. A sonoridade com influências de acid-jazz e funk que domina o disco de estreia dá lugar a uma linhagem de rock com swing, pontuada por baladas intensas e uma abrangência pop de que nunca se envergonharam.
O segundo álbum, “Kazoo”, é gravado, segundo os próprios, “um pouco à pressa” e tornar-se-ia o álbum de explosão de popularidade dos Clã, graças a canções que se tornaram clássicos na discografia do grupo e no cancioneiro pop português. Entre elas estão, naturalmente, a incontornável “Problema de Expressão” e esta enérgica “GTI (Gentle, tall and intelligent)”, ambas escritas, tal como todos os temas do disco, por Carlos Tê.
Ao contrário da pouca popularidade que tiveram com o primeiro disco, com “Kazoo”, os Clã iniciaram uma digressão de mais de dois anos, com mais de 100 espetáculos, só em Portugal, e são ainda hoje uma das bandas mais acarinhadas do país.
Manuela Azevedo é das mais interessantes performers do pop-rock nacional, em palco é tudo o que uma estrela rock deve ser – arrojada, intensa e abundante. Mas mais do que performance, Manuela é entrega e é isso, muito mais do que o desempenho, que a torna superlativa. Apesar de em determinado momento ter achado que o amor não era para ela, como vocalista dos Clã, a cantora não tem parado de o espalhar.
Eu cá continuarei, convicta de que até podia ser um GTI… Porém, aprendi com a Manuela – para que é que alguém quer um GTI? Portanto, apesar das minhas qualidades corresponderem na perfeição ao acrónimo, opto pelas velocidades moderadas e pelos desempenhos confiáveis e menos explosivos. Ainda assim, é sexta-feira, sou rapariga para não desdenhar andar a abrir por aí, no meu compacto citadino, por entre os sonhos de quem povoa os meus.