O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Comemora-se hoje o Dia de São Valentim e as rádios, televisões e redes sociais, irritantemente, não permitem que o esqueçamos. A chuva é demasiado copiosa para que passemos por entre os seus pingos. Aparentemente, hoje devemos todos exaltar o amor lírico, celebrar a paixão arrebatada, enaltecer o sentimentalismo, engrandecer o desejo, em suma, amar e ser amado em abundância. A não ser, é claro, que sejamos fãs de The Smiths.
“Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me” é uma música da autoria de Morrisey e Johnny Marr e integra o quarto e último álbum de estúdio da banda britânica, “Strangeways, Here We Come”, lançado em 28 de setembro de 1987, alguns meses após a dissolução do grupo.
Sobre a canção, afirmou o insuspeito David Bowie que a considerava genial e que gostaria de a ter escrito, classificando Morrisey como um dos melhores letristas britânicos.
The Smiths foram uma das mais influentes bandas dos anos 80 e talvez a mais importante nessa década dentro do rock alternativo. As suas músicas soam a tristeza e a alienação, a autocomiseração e a deceção, soam a solidão mas também a esperança e a amor. E é essa amplitude de sensações, que o seu reportório nos consegue criar, que os tornam intemporais.
“Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me” descreve, mais do que o desejo, a necessidade que sentimos de nos sentir amados. A utilização da palavra “somebody” põe a nu essa carência, evidenciando que pouco importa o sujeito mas apenas o verbo. Como se a validação da nossa existência estivesse dependente do aparecimento de um qualquer ser sem rosto que nos viesse abraçar por trás.
Esquecemo-nos, no entanto, que o amor é um sentimento solitário. Nós sentimos o amor que temos pelo outro… o amor que o outro tem por nós, só ele o sente. Pelo que fazer depender o nosso estado de espírito de sentimentos que não nos pertencem é, no mínimo, pouco razoável. Mas quem melhor de que o Morrisey para nos fazer ter alguma afeição pela irrazoabilidade?
Não simpatizo com o dia de São Valentim, são várias as lendas sobre a sua origem, na sua maioria, trágicas. Ainda assim, é sexta-feira e não há más sextas para o amor, como tal, se não tiverem valentine, aproveitem os sonhos e os falsos alarmes, até porque, basta que sintas para ser real!