O Que Eu Aprendi ou Lições Para Quando Eu Reencarnar

carrossel dos esquisitos

Ana Ademar

Houve um momento em que achei que seria interessante e útil fazer uma lista de coisas que eu aprendi. Porque é que seria interessante ou útil, não sei. Talvez na eventualidade de uma segunda vida ser possível e podermos entrar, nessa segunda vida, com o conhecimento adquirido na primeira.

Daqui podemos concluir que o que se segue é inegável e totalmente inútil.

Esta lista será talvez uma espécie de estado da nação parcelar. Neste contexto a nação sou eu (qual Luís XIV) e isto é só uma forma, idiota e ineficaz de me situar.

Os itens podem ou não ter uma ordem específica e alguns podem ou não estar relacionados entre si.

Estas verdades são absolutas no momento em que as escrevo, sendo que me reservo o direito de desmentir qualquer uma delas noutro momento qualquer.

A lista é e será óbvia e eternamente incompleta. Reservo o direito de a completar e também o direito de nunca mais pensar nela.

  1. As pessoas são, na generalidade, egoístas. Nós próprios inclusive, mesmo quando pensamos que não.
  2. Uma só pessoa pode ser egoísta, boa e péssima pessoa, generosa, carinhosa e fria e tudo o mais. Somos uma amálgama de tudo, em doses variadas e as circunstâncias ajudam a definir o que somos, quer na vida em geral, quer em momentos específicos.
  3. Há momentos específicos em que a personalidade maravilhosa que todos pensamos possuir não vem ao de cima. O que vem é a lama que repousa no fundo e que todos gostamos de pensar que não temos.
  4. Ser boazinha pode ser apenas um sinónimo de ser parva. O que não é razão suficiente para parar de tentar sê-lo.
  5. Ser boazinha pode ser apenas uma forma cobarde de estar na vida provocada por um medo absoluto de fazer frente aos outros.
  6. As pessoas podem habituar-se a ser infelizes e não aceitar nada mais na vida além de sofrimento, por acreditarem que se por acaso viessem a ser felizes, haveria o risco de, de um momento para o outro, deixarem de o ser.
  7. O medo faz as pessoas parvas. As pessoas são, na generalidade, parvas. Nós próprios inclusive, mesmo quando pensamos que não.
  8. Em maior ou menor grau, todos nos importamos com o que os outros pensam a nosso respeito. Esse grau é o que define a nossa necessidade e esforço de agradar aos outros.
  9. Não vale a pena tentar agradar a todos, é impossível e não faz mal que algumas pessoas não gostem de nós. A maior parte não vai tentar entender as nossas razões e está tudo bem. Nós fazemos o mesmo.
  10. Isto é tudo muito rápido e há pessoas, coisas, situações, que não valem a chatice que dão.
  11. Até muito tarde na vida menosprezamos a paz de espírito e afinal, apesar do penteado ridículo, o Paulo Bento tinha razão: a tranquilidade é fundamental.
  12. Assumir que há coisas tudo dá trabalho torna-nos a vida mais simples. Porque é verdade.
  13. Nada é fácil e o que o é, na generalidade, sejam situações ou pessoas, não dá grande satisfação.
  14. Mesmo que pudéssemos, não adiantaria nada voltar atrás no tempo e explicar a nós próprios 20 anos mais novos, o que vamos aprendendo – nunca acreditaríamos. E é isso que tem tanta graça: andarmos todos, geração atrás de geração, a aprender mais ou menos as mesmas coisas e a não termos forma de avisar os que aí vêm.
  15. Efectivamente existem livros e filmes chatos. Mesmo que o mundo diga que são obras primas. Podem muito bem sê-lo, mas se o meu cérebro se recusa a colaborar na leitura ou visionamento do mesmo, eu tenho o direito de os deixar a meio e passar a outro. Sem sentimentos de culpa.
  16. Viver bem com a nossa consciência é impagável. Mas porque nos assuntos do mundo pouca coisa é preta ou branca, antes reinam muito mais do que 50 tons de cinzento, tomar decisões não é simples. As nossas escolhas podem revelar-se, a posteriori, questionáveis. O que pode provocar dificuldades na convivência entre nós e a nossa consciência. Nestes casos, resta-nos apenas assumir o erro, tentar emendar o que houver e puder ser emendado e seguir em frente, de preferência sem culpa.
  17. As pessoas são o melhor do mundo.
  18. As pessoas são o pior do mundo.
  19. Não podemos viver isolados, ainda que às vezes apeteça muito.
  20. Há-de haver um meio termo para tudo, mas é muito difícil de encontrar.
  21. Existirá certamente o sítio exato onde a resiliência deixa de o ser e passa apenas a ser teimosia. Ou então a diferença entre ser coisa e outra, resiliente e estúpido, é apenas o resultado final. Ninguém conhece as histórias de gente estúpida que teimou numa estupidez e não conseguiu nada a não ser uma monumental perda de tempo e de esforço. Só nos chegam as histórias de bravos resilientes que lutaram por qualquer coisa aparentemente impossível e conseguiram vencer. Perceber a diferença entre uma coisa e outra antes do fim da história seria coisa para valer milhões, mas tornava certamente tudo muito mais aborrecido.
  22. Não faz mal nenhum insistirmos em fazer coisas que nos divertem, mesmo que não sejamos muito bons a fazê-las.
  23. É perfeitamente legitimo fazer listas de coisas inúteis que achamos ter aprendido.
  24. É perfeitamente legitimo que algumas das “lições” sejam tão verdadeiras quanto o seu contrário.
  25. É perfeitamente legitimo não ter muitas certezas. É talvez mais prudente do que ter muitas.
  26. Podemos mudar de opinião mesmo num curto espaço de tempo. Digamos, meia hora.
  27. É difícil colocar vírgulas nos sítios certos.
  28. Gosto de pensar que assumir que se tem uma dificuldade não nos fragiliza, mas é muito possível que esteja errada.
  29. É muito fácil assumir que estou errada porque parto do princípio que, na generalidade, as pessoas sabem mais do que eu. Vai-se a ver e sou só parva. Afinal em terra de cego, quem tem olho é rei e eu podia escrever um livro só com listas parvas de aprendizagens aleatórias, o livro ser um best seller e eu ficar com a vida resolvida.
  30. Para mim é extremamente fácil ser parva, mas é muito difícil ganhar a vida com isso.
  31. Porque assim que acabo um item desta lista, me vem à cabeça um outro que é tão aleatório, parvo e desinteressante quanto o anterior, está a ser muito difícil dar por terminada esta lista.
  32. Há coisas que são difíceis de terminar, mas a melhor a forma de o fazer é sempre a mais simples: com um ponto final.

Ponto final

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