A Rosa
Madalena Palma
Sabes Rosa, quando a Lua traz a noite, é como se os planetas e os animais se recolhessem.
Tudo assume um outro lado quando a película húmida cobre os espaços.
As árvores murmuram segredos e silêncios e os olhos baixam ao chão.
Os reflexos desvanecem-se e os espelhos assumem-se como quadros antigos apinhados de memórias.
As criaturas da noite vivem nas esquinas das ruas, nas ruelas recônditas e a terra e o céu unem-se num breu único.
As luzes matizam apenas pequenos palcos onde interagem os seres.
A noite recupera e tolda de pardo os pensamentos e os ensejos. Assim é quando as forças são poucas e quando a nossa robustez está alinhada de forma disforme.
Há noites em que a pouca lucidez não nos faz ver através da escuridão.
Mas há também noites em que a luz teima em permanecer e a nos alinhar os pensamentos.
Há noites lúcidas em que escarnecemos a escuridão e o cansaço.
Há noites diferentes em que a leveza é tanta que nem a roupa se sente no corpo ou o frio se sente na pele.
Há noites que são dias numa altura em que toda a luz é pouca para iluminar os dias que aí vêm.