excorgitações
Sofia
Por estes dias fui convidada para ir deglutir coisas numa bimby party. Como ficou subentendido, a anfitriã era uma amiga, casada e mãe de filhos (duas pestes que reputo de adoráveis com receio que a minha amiga seja uma das minhas parcas leitoras).
Com efeito, uma mulher solteira, especialmente sem filhos, quando opta por comprar aparelhos domésticos, por certo que não será uma bimby…
Mas, ignoremos por ora outros prazeres e esmiucemos a questão da bimby que, estou em crer, tem colossal pertinência na pós-modernidade.
Efetivamente, o valor simbólico da bimby para as mulheres casadas com filhos é o equivalente a um descapotável para um cinquentão casado que recentemente contratou uma PT: não é apenas uma questão de afirmação pessoal perante os seus pares, como é uma afirmação na política doméstica. Ainda que, não necessariamente, conciliáveis.
Se no caso das mulheres bimbólicas não é o seu grito de Ipiranga, é uma declaração de intensões domésticas: nos primeiros meses, é tempo de enfardar o marido e os putos com bolachas, queques de frutos silvestres, pão, bacalhau sensaborão e, naqueles sábados à noite em que se exportam os putos, até umas caipirinhas, num clamor de um novo impulso conjugal. Que indubitavelmente resulta. Pelo menos até a pega da balança exigir que a porca da máquina de cozinha seja confiscada de valor calórico (em certo sentido, é como quando o marido inicia a relação com uma nova amante e, temendo ser descoberto com as calças na mão, torna-se quase suportável e moderadamente encantador).
Não me interpretem mal: se admito achar as demonstrações da maleta vermelha mais toleráveis, sempre que me quiserem oferecer jantares (sem contrapartidas demasiado desagradáveis) estou eternamente disponível. Mas, se quisesse comprar um robot de cozinha, resgatava a minha ex-sogra…
Ahahah adoro. Tão a propósito. Na minha casa há uma coisas dessas mas é o marido que usa. Eu fico apenas a apreciá-lo enquanto ela a usa sem dó nem piedade. No sofá chegam apenas os aromas e o regalo da vista.
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