O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Numa altura em que cresce de forma exponencial, entre conversas de café e caixas de comentários das redes sociais, o aparecimento de especialistas em infeciologia, formados entre fakenews e reportagens da CMTV (perdoem-me o pleonasmo), não quis ficar fora do hype e também eu ambiciono dar o meu alvitre sobre infeções. Porém, ao contrário da esmagadora maioria da população portuguesa, não sou especializada em nenhum ramo da medicina. Nem eu, nem os Bad Religion e, no entanto, foi com eles que aprendi quase tudo o que sei sobre o tema e que é, como se verá de seguida, muito pouco.
Formados em 1979, os Bad Religion são uma das mais importantes bandas dentro do punk rock e hardcore, tendo influenciado muitas das formações da segunda vaga do punk. As letras provocatórias, assentes numa melodia harmónica, porém rápida e agressiva, são marca incontornável do grupo.
Um dos temas mais populares dos Bad Religion, “Infected” foi escrito por Brett Gurewitz, guitarrista e compositor da banda de Los Angeles e lançado em 1994, como terceiro single do oitavo álbum de estúdio dos Bad Religion, “Stranger Than Fiction”, título que por estes dias se adequa na perfeição.
Apesar das várias interpretações sugeridas, Mr. Brett afirmou que “Infected” é uma música sobre amor… no entanto e se dúvidas houvesse, considerando as metáforas que a letra contém, esclareceu ainda que se refere a um amor obsessivo.
A obsessão pode não ter estatuto epidémico, mas consegue, indiscutivelmente, ser uma das infeções mais gravosas que as relações podem conhecer. No entanto, e considerando os últimos acontecimentos, fica cada vez mais claro que a generalidade das pessoas tem dificuldade em lidar com a incerteza e, a par da doença, nada pode ser mais incerto que o amor, que raramente sabemos explicar como surge, porque se mantém ou quais as causas do seu término.
No amor ou na doença, quando nos deixamos dominar pelo medo, é comum vir ao de cima a irracionalidade e, para além das relações abusivas que todos conhecemos, também a corrida desenfreada ao papel higiénico é inequívoca prova disso. É sexta-feira, aproveitem o fim-de-semana para fazer uma micro quarentena com quem vos for mais indispensável, responsavelmente e com precaução mas sem obsessões e alarmismos, lembrando, ainda assim, que o amor, tal como a vida, é bem melhor sem patologias.