A Rosa
Madalena Palma
O mundo está um caos. As pessoas estão estranhas. Ou são estranhas. Não sei bem. Nem sei bem que são elas ou a forma como as olho. Entram em pânico com o mínimo. Fazem dramas com os mais ínfimos problemas. A futilidade inunda os dias. A facilidade com que perdem a humanidade é extraordinária. A facilidade com que se deixa para amanhã é assustadora. Tenho medo. Tenho imenso medo Rosa. Tenho medo que a vida mude. Que o mundo acabe. De perder pessoas. De perder a saúde. De perder a lucidez. De perder o chão. De perder a luz. De perder a energia. De perder a capacidade de raciocínio. Tudo isto porque me assusta imenso deixar de fazer o que faço. De ser quem sou. De deixar de fazer a diferença. E é tão simples. Num ápice tudo acontece. Cansam-me as garantias e as certezas. Como é possível viver com a certeza de que amanhã está tudo igual? Não, não está. Amanhã há quem já cá não esteja. Escavou-se mais profundamente uma ruga. Bebeu-se mais uma lágrima. Sentimos mais saudade. Menos vontade. Mais vontade. Amanhã estamos mais perto.
Rosa, o mundo está tão esquisito. As pessoas são estranhas. Olham para o lado quando facilmente podiam fazer algo para facilitar a vida de quem têm à frente. Dizem que sim quando na realidade é não. Fazem planos sabendo que não vão cumprir. Alimentam a mediocridade.
Eu sei Rosa, nada disto é novo para ti e a vida sempre te mostrou o que as pessoas são. Mas essa não é razão para nos resignarmos pois não?
Ainda bem que há as outras.
As outras que não aceitam uma flor no dia da mulher ou um voucher de maquilhagem ou depilação. As outras que exigem respeito e igualdade todo o ano. As que não se resignam às caixas quadradas, pequenas, padronizadas e cheias de estigmas onde alguns homens em particular e a sociedade em geral as querem colocar. Aquelas pessoas, homens e mulheres que criam filhos que respeitam não só as mulheres mas todos os seres vivos e o planeta.
Sabes Rosa, é por essas pessoas que acredito que a vida vale tão a pena. Todos os dias. Nem que seja com a simples missão de combater a mediocridade e a tendência crescente de desumanização da espécie.
Ah, mulher(es)!
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