Da saudade…

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Ilustração de Almeida Junior

à primeira segunda do mês

Leonor

Das variadíssimas formas de ela se manifestar, gosto particularmente daquela saudade sozinha, a mais engendrada de todas, nasce e morre sozinha, vai e vem como se fosse um boomerang, porque não tem para onde ir e apesar de subtil e calada, nunca pára, nem que seja para se abastecer….

Mas é a melhor de todas porque mexe com todos os nossos sentidos irracionais, parecemos selvagens que só respondemos ao que é instintivo, porque nos arrepia os poros da pele seca e sem brilho, rodeia-nos as virilhas, faz sobressair as nossas protuberâncias mais íntimas, as pontas mais espigadas do nosso cabelo ficam entrelaçadas e as palpitações do nosso coração agitam-nos o sangue!

Gosto dela porque toma conta de todos os nossos pontos extremos e de todos os nossos contornos de forma natural!

É como imaginar que estamos num filme do  Woody Allen, em que Gil que viaja com a sua noiva Inez para Paris e ao badalar da meia-noite, ele troca os vários intelectuais de década de 20 que tanto admira, e apaixona-se por mim ,  em vez de Adriana.

Vem a correr até mim, com as suas perninhas cansadas de  tanto amar Inez e percorrer Paris, vem sentar-se ao meu colo a dar-me mimo, beijos, abraços e , melhor de tudo , ler-me Hemingway em voz de confissão, como se de alimento se tratasse para o meu ego, tudo aquilo que Gil sabia que eu precisava e queria. Como se eu fosse Adriana.

A saudade desamparada é como amar um Gil, um paradoxo entre a comédia e a tristeza e um “je ne sais qoui” de ironia, porque ela , a saudade acaba por arrancar sorrisos, dar-nos aso há imaginação e aquela força de pensamento, de tal forma grandiosa em que vemos aquele  helicóptero enorme parecido com  um boing 700, que vem aterrar como um pombo correio  e trazer-nos “boas novas” (como diz o cazuza ), um peitoral para abraçar, uma boca  para respirar, uma mão para tocar, sempre como efeito placebo de um telegrama, que parece ter caído em desuso mas que  nos aproximava  do outro .

Acredito que todos os esforço para mater o telegrama teriam valido a pena, porque tudo é sempre tão longe e nem o eco nos é devolvido.

A saudade é como uma pista de comboios de natal que anda às voltas com sininhos, sempre no mesmo circuito, sem paragem obrigatória, uma espécie “expresso do oriente” que dá ao volta ao mundo e a nós também, mas que nunca nos encontra e acabamos sempre por perder a viagem, porque nunca sabe onde estás, porque não te encontra.

É um fazer de conta que te agarro pela fivela do teu cinto nessas calças sexys e te trago até à ponta da minha língua, a cada vez que me provocas bem longe e me fazes gritar bem alto dentro de mim, Vem, caralho!.

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