A tristeza também precisa de tempo

A Rosa

Madalena Palma

Hoje, podia ser um dia como os outros mas não é. Nem preciso fingir ou fugir à dor porque nunca antes a tinha sentido e um ano depois ainda não sei como lidar com isto. É uma ausência vazia. Não sei bem se é saudade. É falta. É ter o impulso de telefonar. É o precisar de colo ou que me repreenda. Que me diga que estou mais gorda ou mais magra ou a frase de sempre “magana, estás bonita”. É uma merda. Não fujo ao luto mas a verdade é que não o sei fazer. Falo imenso sobre ela, procurei ajuda para perceber sentimentos, mas a realidade cruel e crua é que já cá não está mas sinto-a nos sítios de sempre, nos momentos que mais preciso. Sempre fiz o que bem entendia mas procurava-a sempre para que aprovasse as minhas decisões. E estava lá sempre. Muitas vezes resignava-se porque a minha determinação até a mim enjoa mas estava sempre lá para me apoiar ou amparar.

No que toca à sua partida, faz hoje precisamente um ano, poderia dizer que o tempo passou a correr mas neste campo o tempo assume um sentido diferente, tal como tudo o resto porque jamais aceitarei que já não a tenho. Neste caso, o tempo não cura absolutamente nada. A dor que sinto é triste. Profundamente triste. Imensamente triste. E eu não sou uma pessoa triste mas quando a penso, quando a sinto, quando me pesa a sua ausência, preciso mesmo que essa tristeza me inunda cada canto da minha alma porque só assim consigo suportar a ideia que nunca mais sentir a sua mão.

Hoje, faz precisamente um ano que perdi a minha mãe. Tive algum tempo para me preparar para a sua partida. Estava ao seu lado. Com a mão firme agarrando na sua, sabendo que partia, mas para a sua partida jamais nos conseguiríamos preparar. Mas seguimos em frente mesmo sabendo que jamais encontraremos resposta adequada para a pergunta que tantas vezes faço: “como é viver sem a mãe?” Nunca respondo, nem em silêncio.

As palavras de hoje são tristes. Reconheço que não fiz grande esforço para procurar outro assunto. Não o quis fazer. Desculpem aqueles corajosos que chegaram até ao final destas linhas mas hoje o dia é este. 23 de julho fica marcado pela partida de alguém maravilhoso que deixou memórias doces em todos aqueles que tiveram o privilégio de a conhecer.

Rosa, prometo que as próximas palavras serão de alegria mas hoje ficamos assim.

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