O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Expoente M Rádio
Creio que não será exagero afirmar que já todos, com maior ou menor intensidade, experienciámos a sensação de ter o coração partido. Já amámos sem ser amados, já sentimos o abandono, a falta de cuidado e do abraço que não chega, já passámos horas a olhar para um telefone que não toca ou para uma porta que permanece por abrir. E vamos, passo a passo, degrau a degrau, descendo essa escada de mágoa, autocomiseração e luto, que nos afasta da consciência de que a validade da nossa existência nunca poderá estar dependente de um sentimento que não nos pertence. Amy Winehouse teve dificuldade em percebe-lo, o que acabou por originar um disco fantástico e, em última análise, a sua trágica morte.
“Back to Black” é uma canção gravada pela cantora e compositora britânica Amy Winehouse e integra o seu álbum homónimo, editado em 2006. A autoria da música pertence a Amy e a Mark Ronson, que também produziu o álbum.
A relação musical entre Ronson e Amy foi “amor à primeira vista”. “Back to Black” foi a primeira música que escreveram juntos e surgiu logo na noite em que se conheceram. O produtor e compositor recordou à revista Mojo que nessa noite a cantora lhe confidenciou que gostava de ir a bares jogar snooker com o namorado e ouvir Shangri-Las, tendo acabado por pôr Ronson a escutar uma série de discos, que se transformaram num verdadeiro workshop de produção de girlie groups.
Ronson comprometeu-se então em elaborar algo naquela noite e mostrar-lhe o resultado no dia seguinte. O compositor inspirou-se nas canções que Winehouse lhe havia apresentado, sobretudo em “Remember (Walking In The Sand)”, das Shangri-Las, e elaborou os riffs de piano que dariam corpo à canção.
Amy explicou ao jornal Sun “‘Back to Black’ fala de quando terminas uma relação e voltas para o que é confortável para ti. O meu meu ex voltou para a ex-namorada e eu voltei à bebida e aos tempos sombrios”. Porém, quando “Back To Black” foi lançada, já o casal estava junto novamente, de volta à sua relação tumultuosa, envolta em alcoolismo e abuso de drogas, com os resultados que sabemos.
Descrita como obscura e fúnebre, “Back to Black” tem a clara influência da atmosfera Motown. O tema foi recebido com aclamação pela crítica, que elogiou os vocais emotivos de Winehouse, a sonoridade sessentista da canção e a produção “wall of sound” de Ronson, com intensa reverberação instrumental
Em 2007, The Rumble Strips, uma banda inglesa, que pertencia à editora Fallout Records, uma subsidiária da Universal Island Records, gravou um remix do single, lançado numa edição limitada de vinil branco. Acabou por ser esta a minha escolha porque a remix empresta à canção uma sonoridade funk e uma vertigem que nos recorda que também existe na tal escada um sentido ascendente. E à sexta-feira, ninguém quer continuar a descer…