A Rosa
Madalena Palma
A cabeça está cansada.
O corpo está exausto.
Por mais que tentasse não conseguiria descrever a luta dos dias que estão nos antípodas da palavra e do conceito “rotina”.
Quilómetros na estrada, de estrada, na rua, nas ruelas, caminhos longos e curtos, respostas na hora, pedidos que não param, história de vida que precisam de algo no momento, não quero que esperem, não podem esperar, não faz sentido a espera quando as armas, as ferramentas e a solução estão logo ali, à distância de um caminho longo ou curto mas logo ali. Tantas vezes a resposta e a solução são apenas uma palavra ou um apontar para o caminho certo, o tratar pelo nome próprio ou o olhar nos olhos. Ouvir. Saber ouvir.
O dia acabou agora. Não interessa a hora. É tarde. É demasiado. As pernas pesam. Os olhos pendem. Mas o dia foi salteado, como sempre é, de tanto que é impossível descrever. Não o faria mesmo que conseguisse fazer a cronologia. Já passou. Foi mais um dia em que foi fácil fazer a diferença. Foi um dia cheio de gente. De imensos rostos que eram desconhecidos. Foi também dia para os amigos. Para um beijo e um abraço, de fugida, ao marido que também ele, cansado, faz a diferença, faz diferente. E é tão fácil. Fazer. Basta nunca desistir. Mesmo quando as portas fecham, sobem as pontes e soltam os tubarões. Basta não desistir porque outro caminho encontra-se e, tantas vezes, está logo ali ao virar da esquina.
Sabem o que é que é fácil também?
Valorizar quem faz. Engolir o orgulho e abraçar a causa dos outros. Acreditar que afinal os outros sabem fazer, conseguem, apenas porque sim, porque têm capacidade, porque nasceram para aquilo, porque o altruísmo não é um mito, porque a verdade é clara e transparente.
Ou então, mais simples ainda: limpar as ervas e os obstáculos, alisar os sulcos da terra e deixar o caminho mais livre. Não atrapalhar. Regar as suas plantas, cuidar dos seus e deixar que os outros sigam o seu próprio caminho.
A vida pode ser tão simples.
E é mesmo.
Acreditem.
Eu escrevi “simples”.
Não escrevi “fácil”.