O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Expoente M Rádio
É uma metáfora batida a que compara o amor a uma planta que deve ser regada para que cresça forte e robusta. Ora, eu que já percebi menos de plantas, diria que a metáfora, embora batida é de uma verdade inatacável. São vários os aspetos a considerar no crescimento de uma planta – o substrato em que esta se desenvolve, os nutrientes corretos para cada fase de crescimento, a quantidade de água, o tempo de exposição solar, etc. Uma falha simples como água em excesso ou défice de nutrientes é suficiente para pôr em causa a saúde da planta. E se há falhas que rapidamente se detetam, podendo ser corrigidas sem consequências de maior, existem outras que quando se revelam já comprometeram irremediavelmente a sobrevivência da planta. No que ao amor respeita, se existe cantora que suportou ao limite todo o tipo de falhas foi Tina Turner.
“River Deep Mountain High” é uma canção da autoria do casal Jeff Barry e Ellie Greenwich e do produtor Phil Spector, lançada em 1966 por Ike & Tina Turner.
O inventor da “wall of sound”, que construiu uma carreira diferenciada, produtor de algumas das músicas da minha vida, um dos líderes da onda dos “girlie groups” dos anos 60 e que ao longo das décadas trabalhou com alguns dos maiores nomes da música, incluindo os Beatles ou os Ramones, afirmou que “River Deep Mountain High” é de todas as canções que produziu, a sua favorita.
Embora o tema seja atribuído a Ike e Tina Turner, Ike não teve nenhuma participação no processo de gravação. Phil Spector queria o seu próprio pessoal a gravar o tema e garantiu que Ike não estaria no estúdio durante as sessões, adiantando-lhe vinte mil dólares em troca do controlo absoluto sobre a produção.
Ike Turner e Phil Spector tinham tanto de talentosos como de controladores, obsessivos e… criminosos. O primeiro infernizou, durante anos, a vida de Tina Turner, o segundo foi condenado pelo assassinato da atriz Lana Clarkson. Dois homens que na música corporizavam o amor e na vida personificavam o seu contrário.
Em “River Deep Mountain High” não existem contrários, só amor, bem regado e com a exposição solar ideal, sem défice nutricional e com o pH apropriado, a crescer vigoroso e sólido, com raízes profundas e pronto a florir. Tina Turner consegue oferecer-nos o jardim completo ainda que a sua vida pessoal não fosse mais que terra infecunda.
Tenho poucas competências na jardinagem mas não resisto a metáforas fáceis e sentimentais. É sexta-feira e já preparei o regador.