O amor à sexta-feira!
Nádia Mira
Expoente M Rádio
“Sex, drugs and rock’n’roll” é uma expressão que já todos ouvimos incontáveis vezes. O primeiro uso identificado da frase como a conhecemos foi num artigo da revista LIFE de 1969, que declarava “A contracultura tem os seus sacramentos no sexo, nas drogas e no rock”. A expressão, na verdade, mais não é que uma evolução da frase “wine, woman, and song”, cujas variações existem em diversas culturas, há centenas de anos. No entanto, foi em 1977 que a sua popularidade disparou, quando o músico britânico Ian Dury lançou uma canção usando o dizer, que é a tríade sagrada do hedonismo, como título. Contudo, se foi Ian Dury a popularizar a expressão, quem melhor a personificou foi Lemmy Kilmister.
Em 2017, à criatura marinha mais repugnante que já habitou a Terra foi atribuído o nome de Lemmy. O infernal e excessivo vocalista dos Motörhead, que se orgulhava do seu estilo de vida hardcore e que nos desafiou a amá-lo como um réptil, pareceu então a escolha óbvia para os paleontólogos do Museu de História Natural de Londres, quando tiveram que nomear o seu feroz crocodilo-marinho jurássico.
“Love Me Like A Reptile” é uma música dos Motörhead e integra o icónico álbum “Ace of Spaces” o quarto álbum de estúdio da banda inglesa. O lançamento de “Ace of Spades” é comummente considerado um momento marcante na história do rock, do metal e até mesmo do punk. “Ace of Spades” não é apenas um álbum sobre viver no limite, é um manifesto de como fazê-lo, sendo muito provavelmente o melhor disco sobre “sexo, drogas e rock’n’roll” alguma vez gravado.
Temas como “The Chase is Better Than The Catch” ou “Love Me Like A Reptile” são desaforadamente sobre a melhor parte da tríade hedónica: o sexo. Em “Love Me Like A Reptile” Lemmy uiva orgulhosamente sobre o amor feroz, um tópico comum ao longo da sua discografia. “As pessoas esqueceram que o sexo é divertido” afirmou em entrevista “Podes apanhar gonorreia? Sim! E daí? Esse é o risco que tens que correr. Se vais ter sexo, tem sexo e fica feliz com isso, não fiques a olhar por cima do ombro o tempo todo”. E se há mensagem que os Motörhead transmitem na perfeição, quer na música como na atitude, é sobre como deixar os bons tempos rolarem, sem agonias, temores ou sentimentos de culpa.
Lemmy Kilmister viveu ao limite, respeitando escrupulosamente os sacramentos da contracultura e não há para mim banda que soe mais a “sexo, drogas e rock’n’roll” do que os Motörhead. Apesar do meu insanável encanto pelo amor, não afasto um certo apreço pelo mote hedónico. É sexta-feira e a banda sonora já está escolhida. Dos três, pelo menos um.