excorgitações
Sofia
A expressão gajanetes foi cunhada no léxico político português no curto reinado de pedro santana lopes, quando começou a ser curial a vox populiressabiada referir-se às apoiantes femininas do então primeiro-ministro por santanetes.
Aqui pelo burgo, a expressão começou a divulgar-se com as pulidetes, tendo atingido o apogeu com a vitória eleitoral do paulo arsénio e o surgimento do principado das arsenetes. (e, se o vitor picado ganhar as eleições, só peço que não denominem as suas apoiantes como picadetes, porque me parece um bocado macabro).
Serve a cronologia para destacar um ponto que me parece crucial: num tempo em que os meus amigos andam obcecados com implantes capilares, é fácil concluir que a sabedoria popular tem razão: é realmente dos carecas que elas gostam mais.
Começo com um disclaimer, porque sou uma miúda moderna e também gosto de falar em estrangeiro: tenho relações muito cordiais com algumas arsenetes (apesar de me faltar intimidade com elas), outras não conheço, sendo que destas, admito, algumas não me importava de conhecer e outras estou grata por nem saber o nome. Como recorrentemente acontece comigo e, estou certa, também consigo.
Dito isto, vamos à hermenêutica da coisa. Ponderei debitar estas linhas depois de ver as notícias sobre a porca que fez um trio num comboio, contrariando as teses pessimistas de que andar de comboio é cada vez mais desagradável. Porque, infelizmente, o estereótipo da miúda do comboio é exatamente o mesmo do que o das arsenetes.
Porque, abscondido nos comentários abjetos sobre a miúda, esconde-se o preconceito sobre o universo feminino: ou o complexo de Eva em que todas as mulheres são pecadoras e aquelas que se aproximam do mundo da política oferecem-se em troca de parcos benefícios, ou a mulher troféu, tolinha, incapaz de pensar por si mesma, deixando-se instrumentalizar para decorar cartazes e jantares eleitorais, exclusivamente preocupadas com os vestidos que levam às festas e os chapéus e biquínis que levam aos 5 reis.
Sophia dizia que a mulher ainda vive no mundo do homem e décadas depois ainda por lá habita, demasiadas vezes porque outras mulheres se esforçam por as trancar nas cozinhas reais e metafóricas das nossas vidas. Porque amiúde somos cruéis umas com as outras, reiteradamente mais impiedosas do que os homens para connosco. Pelo que deixo estas palavras de ânimo a todas as arsenetes, mormente aquelas que tanto me atacaram por treslerem uma crónica minha e me quiseram devolver à minha terra, desconhecendo que foi em Beja que nasci.
Lutem sempre pelas vossas convicções, façam as escolhas políticas que entenderem e que nunca vos falte a coragem para fazer ouvir a vossa voz sem se deixarem atemorizar pelos machistas de serviço.