e agora eles
Paulo Ribeiro
“Olá Paulo, espero que estejam todos bem, calculando que andem mais atarefados do que o habitual, mas de coração cheinho, com menos sossego, mas de alma crescentemente preenchida! Muda tanta coisa, mas temos de facto uma capacidade de amar, sem distinção, incrível.
Parabéns e Felicidades para a família”
Sónia Calvário
Foram estas as primeiras palavras da Sónia Calvário no email que me enviou, antes de mais adiante no mesmo email ou carta se preferirem, me endereçar o convite para escrever um texto livre para ser publicado no Expoente M. Aqui estou eu livremente, como não podia deixar de ser, a escrever alguma coisa inspirado no mote que as calorosas palavras da Sónia me deram. Escrevo sobre isso, sobre a necessidade do conforto das palavras, sobre a urgência dos afectos e dos abraços, sobre a amizade e inevitavelmente sobre o amor. Sim, estamos “mais atarefados do que o habitual mas de coração cheinho”, e tudo porque nasceu essa esperança, essa “flor de Abril” que é o nosso filho, em plena pandemia.
No entanto, esse maravilhoso acontecimento não impede nem desvia a minha e a nossa atenção familiar para com o outro, o outro que posso ser eu amanhã no desemprego, na negligência, na doença, no degredo… o outro ou os outros que podem ser um colectivo, os povos e comunidades que vêm os seus direitos, liberdades e garantias seriamente ameaçados. É deste lado que eu estou com todos os defeitos que tenho. Estou fora do “umbiguismo” que é um vírus que acelera e dá força ao vírus que sustenta a pandemia. Assim sou eu de certa maneira e vou já concluir esta divagação com palavras “roubadas” ao eterno José Mário Branco, para que melhor me percebam:
“Há princípios e valores
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho”