O voto de Sofia

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excogitações

Sofia

Sofia||Expoente M Rádio

Escrevo-lhes estas palavras escarrapachada no meu sofá king size (não é que o sofá seja grande, mas como sou pequenina é king size), com um pijaminha lindo que comprei no natal para usar no primeiro trimestre do ano de trabalho. E umas meias de lã, e mais uma ou outra coisa que deixo para a vossa imaginação.

Estou neste exato momento no dia de reflexão eleitoral, pelo que ainda não sei que o marcelo ganhou as eleições; os puritanos vão armar-se em picuinhas e afirmar que hoje, sexta-feira, ainda não é dia de reflexão, mas prometo ser condescendente com a vossa ignorância.

Efetivamente, nos estranhos dias das nossas vidas precisamos de muito mais do que um dia para refletir, e nem me refiro à enorme dificuldade em encontrar no debate presidencial uma única ideia que não seja ou oca, ou demagógica ou populista, mas há imensa complexidade em ir votar no mundo pós-moderno.

Desde logo, o que é que eu vou comer no longo calvário que me espera no domingo (quando falo no longo calvário, não quero dizer que já me custa ir votar; usei a expressão porque não quis perder o trocadilho para me meter com a sónia!). Mas, como dizia, domingo vou comer na marmita (quando estiver na bicha para votar e, provavelmente, à noite ao perceber os resultados), pelo que hoje preciso decidir o que vou cozinhar. Pensei numa sandes de torresmos com um copo de vinho, mas o voto é secreto e temo que esta refeição denunciasse em quem vou votar; pela mesma razão, não posso levar um copinho de leite, até porque a questão dos líquidos assusta-me porque temo que me dê um ataque de urina e desconfio que o senhor presidente se esqueceu de instalar wc portáteis perto das urnas.

Por outro lado, desde ontem que vivo obcecada com uma questão eleitoral: que maquilhagem usar? Evidentemente que vou de batom vermelho! Vão dizer que como tenho de levar a máscara é irrelevante, mas se mesmo no confinamento faço a depilação não vejo razão para não ser coerente e besuntar os beiços! Complexo é a escolha da roupa: diz-me o iphone que vai chover e a minha intuição diz-me que vai estar frio, pelo que é temerário levar uma saia curta; se levar calças com botas caneleiras, toda a gente me vai acusar de votar naquilo e saltos altos para estar 3 horas na fila depois de semanas em pantufas não me parece uma boa ideia. Até porque com saltos altos algumas partes de mim ficam mais apelativas e temo que isso seja negativo para o distanciamento social.

Por tudo, começo a ponderar a possibilidade de levar um casaco, sobre um casaco, mais um casacão, debaixo de uma gabardine, alguns pares de calças, umas botas daquelas de borracha com as quais em miúda chapinhava na chuva para que o raio do bicho perceba que dou demasiado trabalho para ele se incomodar em infetar.

Mas, uma certeza eu tenho: levo caneta, máscara, gel, medo, quiçá umas fraldas, uma marmita cheia de paciência, mas não me abstenho. Porque há vírus piores do que o codiv. E, como preciso de levar óculos, o facto de no momento do voto estes estarem embaciados pode ser muito útil na hora de colocar a cruz e engolir o sapo…

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