Do inverno das coisas ao poente do infinito
Ana Fafe
A primavera é a estação da sua preferência. Altura em que as flores desabrocham para celebrar a poesia, mostrando que entre março e abril, repetidamente, estamos entrelaçados na mudança. E só o inevitável se toca!…
O ritmo dos homens e o das coisas naturais não se cruzam. Os caminhos fazem-se no mesmo espaço e tempo, mas as finalidades são servidas com muros. Não é bom para quem gosta de tudo no sítio perceber que todos os anos a natureza lhe prega, sempre, a mesma partida.
Março é o primeiro e tudo renasce. Abril é revolução e campos de pontos vermelhos no ventre. Segue assim, a mãe de todas as coisas o seu trajeto mesmo que os destinos não agradem. Pois não aprecia ser vigiada, adulterada, encarcerada, apontada, moldada, enganada…
Os tempos são novos. E na planície verde, roxa, amarela e branca, em tons primaveris… não se vislumbra o passar da pandemia. A dos homens? A das coisas?
Mesmo que não se queira, o rio corre e as águas lavam as pedras dos que as colocaram nas estradas dos inconformados.
Ninguém trava a natureza de quem é inquieto na vida. Esta é, talvez, a ocasião em que tudo converge para o encantamento dos entrelaçados na mudança.
E porque “quero poisar na seara dos teus dias, como uma abelha pousa numa rosa”, tal como diz o poema de António Sérgio, sublinho que é inevitável para quem tem março no sangue não se renovar no calor dos primeiros raios de sol…