Os Idos de Março de 44 a.C., as autárquicas e os movimentos cívicos

idos de março

Sónia Calvário

Sónia Calvário||Expoente M Rádio

Março é um mês especial, repleto de efemérides que nos devem fazer refletir sobre o papel de cada um e de todos neste coletivo e neste espaço que temporariamente ocupamos.

O inverno dá lugar à primavera. Relembram-se as vítimas da violência doméstica e do terrorismo, assinala-se a luta contra a discriminação racial e contra a violência policial, alerta‑se para a importância da água, da vida selvagem e da árvore, comemora-se o dia do pai, a poesia, o teatro, a criação artística e os Centros Históricos. Homenageia-se o movimento estudantil. E a Mulher, destacando a sua longa e árdua luta pela igualdade.

Os Idos de Março do ano 44 a.C. (dia 15) ficaram célebres pelo assassinato, por motivações políticas, de Júlio César, apunhalado até à morte, na cúria de Pompeu, sede do Senado Romano. A ascensão e popularidade do General, nascido de uma família de reduzida influência, ameaçaram o status quo das grandes famílias de Roma e da classe política. A conspiração para o seu afastamento culminou com a organização da sua morte pelos autodenominados “libertadores”.

2021 é ano de autárquicas. As eleições que costumam ser as mais participadas. As únicas passíveis de concorrerem movimentos independentes dos partidos políticos. E, por isso, as que mais perturbam os que entendem serem detentores da sabedoria e da organização, os capazes de dirigirem os destinos dos indivíduos, da comunidade, do país.

Desde março do ano passado que as atenções se concentram na pandemia. Sobre a sua propagação, testagem e vacinação. Quando o foco se afasta há que alimentar a bipolarização, fomentando a discórdia e potenciando a agressividade.

Enquanto se investe no medo, a classe política vai continuando a trabalhar para garantir o seu poder. Exemplo disso é a aprovação (pelo PS e PSD), em julho último, de alterações à Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais, que dificultam as candidaturas de movimentos de cidadãos.

Em todo o país existem organizações, formais ou informais, que lutam contra determinados problemas. A grande maioria composta por pessoas com qualificações importantes para contribuírem para a discussão, o estudo e a perspetivação de soluções. E não sejamos ingénuos, estes movimentos integram também, e não raramente, indivíduos com interesses e motivações pessoais, de cariz profissional e/ou político, cabendo aos pares zelar para que não percam a sua essência e, assim, não serem facilmente alvo do descrédito. Deles nascem, por vezes, grupos com preocupações mais abrangentes, que versam sobre diversas áreas da vida das comunidades onde se inserem. Quanto mais transversais forem os objetivos a que se propõem maior é a probabilidade de “morrerem na praia”, acabando assimilados pelos partidos políticos, ou aniquilados.

A morte de Júlio César tem muito para nos ensinar. Beja, que foi capital de um vasto e importante território, foi Pax Iulia e Baju. Sempre com o significado de Paz. E isto talvez explique muita coisa.

A fotografia – busto em mármore, encontrado no início do séc. XIX, em Beja, há alguns anos identificado como sendo Júlio César, exposto, em junho de 2017, no Museu Regional D. Leonor.
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