Noémia Ramos é natural da Vidigueira e reside em Cuba, no distrito de Beja, onde, como Vereadora, independente eleita pela CDU, tem a responsabilidade dos pelouros da Educação e Formação Profissional, Saúde, Ação Social e Proteção Civil. Foi a primeira mulher Comandante de uma corporação de bombeiros (BVV), é Assistente Social, desde 1993, formada pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL), tendo iniciado a atividade profissional como Diretora Técnica, nesse mesmo ano, na Santa Casa da Misericórdia de Vila Alva, funções que terminou em 2006.
O gosto de ensinar e aprender levou-a, a que no términus do curso de Serviço Social, atitude que qualifica de “pretensiosa”, tenha concorrido a uma vaga para docente no ISSL, para a qual não foi selecionada, uma vez que a experiência profissional era nula e a Presidente do Júri do concurso, Prof. Doutora Maria Augusta Negreiros, uma referência nacional na área do Serviço Social, não a selecionou e disse-lhe “Tem potencial, mas agora, nada saber fazer para ensinar”.
O desafio da docência, de contribuir para a formação de futuros Assistentes Sociais, não esmoreceu, e, em 1995, concorreu ao ISSS de Beja para lecionar 3 horas semanais, um projeto muito ambicionado em simultâneo com o projeto de ser Mãe, pelo que gravidíssima e sem conduzir, por medo e por não ter carro, chegar a Beja já era uma tarefa árdua.
Como o caminho faz-se caminhando, com muita persistência na superação dos seus medos, muito investimento, muito trabalho e dedicação aos vários projetos da sua vida, foi mãe, filha, esposa, docente, estudante, presidente de órgãos académicos, Assistente Social, Diretora das valências de Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário na IPSS e Diretora do ISSSB.
Como não há bem que sempre dure e mal que não acabe, em setembro de 2006, fruto da sua personalidade e dos valores que sempre orientaram a sua vida, como uma bússola que lhe indica o caminho, ficou desempregada.
Acreditando no proverbio popular, onde se fecha uma porta abre-se uma janela, e pela mão de Manuel Narra, teve a oportunidade de se desafiar e desafiar uma área historicamente masculina, ser Comandante do Corpo de Bombeiros de Vidigueira, tornando-se a primeira mulher Comandante do país. Cargo que muito se orgulha de ter desempenhado, pela possibilidade de ajuda ao próximo na área da emergência e proteção civil, bem como da oportunidade de abertura do setor a muitas outras mulheres.
Foi um mundo novo, mas onde os ensinamentos do Serviço Social e da docência continuavam a caber, pelo que em 2009, passou a desempenhar também as funções de Comandante Operacional Municipal da Proteção Civil, na Câmara Municipal de Vidigueira, o que contribuiu para verificar a necessidade de criar e coordenar um curso profissional de Proteção Civil na Escola Profissional Fialho de Almeida.
Simultaneamente e na convicção de que é preciso participar para mudar, desempenhou as funções de Diretora Técnica na Associação de Beneficência de Pedrogão do Alentejo, uma freguesia que pelas suas características e modos de vida continua a precisar de um outro olhar.
Em setembro de 2014, uma nova reviravolta, levou-a ao cargo de 2.ª Comandante Operacional Distrital da Proteção Civil, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, cargo que desempenhou até outubro de 2017, altura que tomou posse como Vereadora da Câmara Municipal de Cuba, eleita pela CDU.
Este, diz, é o centro do seu mundo, as pessoas, sempre as pessoas!
Tudo o que ficou expresso é Noémia Ramos, no mais profundo do seu ser e do seu fazer, e é a Senhora que se segue no Expoente M.
Tem a vida que idealizava?
Não, mas nalguns aspetos sou muito feliz. Na esfera pessoal e afetiva, ser mãe é a dimensão que mais me torna feliz, porque considero que o projeto educativo da minha filha, foi o mais desafiante de todos os meus projetos. Na esfera profissional sou, efetivamente, o que sonhei, Assistente Social, e com a diversidade de funções que já desempenhei tem-me permitido, salvar vidas, educar e contribuir para tornar melhor vida das pessoas.
A intervenção/participação na sociedade deve ser uma preocupação de todos? No seu caso como a pratica?
Sem dúvida, sem participação não há democracia. No meu caso, quando exerço a minha profissão já estou em modo de intervenção e de participação, pois o que está na base do Serviço Social é a intervenção social para a mudança, e não há intervenção social efetiva se não houver respeito pela pessoa e pelos seus direitos e liberdades. Na esfera social e política, desde sempre que tenho estado envolvida no desenvolvimento do 3.º sector, IPSS, Cooperativas e Associações, umas vezes como dirigente outras apenas como associada, mas sempre como agente ativo de participação cívica e política, uma vez que não vejo a intervenção/participação cívica fora da dimensão política, mas não partidária. Atualmente, na qualidade de eleita da CDU, mas como independente, continuo a participar social e politicamente para o desenvolvimento do concelho que me acolheu (Cuba) e para a manutenção e reforço das políticas públicas universais.
Como vê a conciliação, atualmente, da vida profissional e familiar/social? Na sua vida existe esse equilíbrio?
Atualmente é fácil conciliar a vida profissional, familiar e social, porque já não tenho compromissos familiares que me exigem maior atenção e disponibilidade. Essas dificuldades já passaram, quando tinha uma filha pequena, os pais idosos em casa e as atividades profissionais a 24 horas.
Já sentiu que a sua afirmação profissional e/ou pessoal foi dificultada ou condicionada por ser mulher?
Sim, claramente. A minha atividade profissional nos Bombeiros poderia ter sido muito condicionada pelo facto de ser Mulher, mas tive a sorte de encontrar muitas pessoas que fizeram dessa crença (diferença de género) uma mais valia. Enquanto para os homens exercer um cargo, chega exercê-lo, para as mulheres é preciso provar, provar e provar a sua competência para ter estatuto e legitimidade. Passada a fase de fogo, que foi a fase da afirmação, posso dizer que estive em pé de igualdade com os meus pares.
O que é preciso para que as mulheres possam ver garantido o seu direito à igualdade? Como podem as mulheres contribuir para essa concretização?
O direito à igualdade plena só é conseguido pela educação, por isso quanto mais educarmos para a igualdade os nossos filhos/as, alunos/as, jovens, mais rapidamente teremos uma sociedade igualitária em todas as suas dimensões, igualdade de género, igualdade social, económica e política. No entanto, a educação só dá frutos no futuro, pelo que é preciso que, hoje, todos tenhamos uma atitude exigente no cumprimento e ajuste da legislação nacional em matéria de igualdade. Quanto ao papel das mulheres na concretização de uma sociedade de plena igualdade, é não se conformar, é não aceitar a normalidade da discriminação, é exigir respeito pela sua pessoa.
Qual é o seu maior sonho?
O meu maior sonho, em termos coletivos, é viver numa sociedade que respeite o Direitos Humanos. Em termos individuais é poder vir a integrar missões humanitárias.