à primeira segunda do mês
Inês Rosa
SALAM! Paz
Hoje escrevo… apenas uma parte de toda uma dimensão de vivências que aqui poderia partilhar.
Lembro-me em criança, de me queixar à minha mãe a dizer que na escola tinham gozado comigo por eu ter “sandálias de indiana”. Seria este um sinal da minha futura paixão, pela cultura do Oriente, Médio Oriente e culturas em geral?
Hoje vivo e absorvo todo o ensinamento que me é transmitido, sentindo que somos apenas um pequeno ser nesta imensidão que é o Universo. Percebemos que embora sejamos seres individuais, somos unos, não existe separação, é pura ilusão, o planeta Terra é único e pisado por todos e o altruísmo e empatia são extremamente necessários para esta união.
A primeira cultura com que tive um contacto mais profundo foi a Africana, com amigos de Angola, Moçambique e Cabo Verde, que hoje vivem em Portugal, e foi com quem partilhei anos de muitas vivências, música, comida e alegria! Foram tempos tão mas tão felizes!
Foi nesta altura, talvez a partir dos meus 16 ou 17 anos, que comecei a explorar tanto a música de vários países como a sua gastronomia, apaixonando-me até hoje, especialmente pela música tradicional africana, árabe, indiana e músicas do mundo em geral. Confesso que não tenho uma única música em português ou inglês por mais estranho que possa parecer.
KADHIJA
Há quase 7 anos conheci a Kadhija, do Bangladesh. Ela era a minha vizinha do andar de cima em Lisboa.
Durante todos estes anos, estivemos praticamente quase todos os dias juntas. Ela tinha uma loja com o seu marido, o Sheikh. Agora vivem em Londres.
Foi ela quem me abriu as portas e me fez mergulhar ainda mais profundo sobre a sua cultura.
Com ela aprendi sobre a tradição e cultura muçulmana, palavras em Bengali e alguns pratos tradicionais.
Aprendi sobre generosidade, gratidão, pureza e amor incondicional, pois nestes anos nunca me pediu absolutamente nada e recebia tudo, o meu sentimento.
Sinto muito a sua falta e das filhas, a Urmila e a Afreen que praticamente vi nascer, ainda sinto os beijinhos e abraços constantes destas princesas, mas, na vida tudo é impermanente e cada ser tem o seu percurso.
Mantemos sempre o contacto pois sabemos a importância que temos uma para a outra e um dia inshallah nos voltaremos a encontrar.
O contacto na “minha” cidade de Beja com esta cultura é intensa. A maioria surgiu na minha vida “sem querer”, todas com um começo quase que “por acaso”. São maioritariamente da India, Paquistão e Síria. Existe tanto para contar sobre cada um…
Quando me abrem a porta das suas casas, encontro-me rodeada de cores, sorrisos e aromas. A frase que mais escuto é “ Khana kho, khana kho” que significa em Urdu “Come mais, come mais”! Oferecer um chai ou alimento é um acto de amor e de receber bem o outro.
Há cerca de 3 anos, uma família maravilhosa da Síria entrou na minha vida. Inicialmente, o que mais me impressionou foi a sua suavidade, calma, união e o trabalho em equipa que é incrível.
Nas primeiras visitas o português ainda lhes era difícil, embora já com um rápido desenvolvimento. Partilhámos chá e músicas em árabe que ambos conhecíamos e tínhamos em comum.
O Abdulrauf, um dos filhos da Batol e do Sait, está sempre atento e preocupado a ver se o meu chá termina para me voltar a encher o copo e a Enam, a avó, adorava que eu compreendesse árabe porque diz ter tantas histórias para me contar! Apenas lhe ofereço o meu sorriso, companhia e palavras soltas de carinho em árabe.
Estarem várias culturas na cidade onde nasci, agora sim me faz sentir em casa, pois nunca pensei há anos atrás, poder ter um contacto mais directo e intenso com algo a que me sinto conectada desde “sempre”.
Hoje, transbordo de gratidão por tudo o que me ensinam, pela forma com que me recebem e me fazem sentir parte da família, porque sim…habito num corpo português mas de alma ainda não sei bem de onde…