A Rosa
Madalena Palma
Rosa, tenho uma novidade para ti.
Aparecemos na televisão.
Foi uma experiência tão gira.
Diferente.
Em primeiro lugar começámos por preparar com a equipa de produção toda a vinda da equipa. Quiseram conhecer ao pormenor tudo o que fazíamos, como fazíamos, quem eramos. No fundo quiseram conhecer como começou a germinar na nossa cabeça toda a ideia de construção da ESTAR.
Depois foi a chegada da equipa, conhecer-nos ao vivo.
Chegaram logo cedo, num dia de final do mês de abril.
Conhecemos a Catarina, o Ricardo e o Hugo e foi com eles que passámos todo o dia.
Abrimos a porta à comunidade porque queremos muito ser uma Associação onde as pessoas se sintam bem e com a qual se identifiquem, mas ainda assim não expomos as famílias, as dificuldades que as mesmas e até mesmo nós atravessamos. Não gostamos de propagandear a ajuda. Mas entendemos, com algum custo, que esta seria uma boa forma de conhecerem o nosso modus operandi e um pouco da nossa garra. Principalmente porque se não nos conhecem ou à ESTAR dá azo a que se especule e esta terra é bem madrasta e sabe ser muito má. As repercussões da reportagem foram imensas em várias frentes. Tem estado a ser maravilhosa a forma como nos acolhem, nos tratam, nos apoiam, nos dão contributos. Mas há uma frase comum a muitas das mensagens que nos chegam: “não fazia ideia”. E é bem verdade. E quem viu ficou apenas com uma pequena ideia. Estamos no início de uma grande caminhada que sabemos tortuosa. Muito complicada. Principalmente pelas forças de bloqueio, faltas de financiamento, rasteiras, vácuos, faltas de respostas, invejas, boatos, e pelo muito tempo livre e falta de capacidade de muitos dos que falam sem saber. Mas nós cá estamos: rijas, firmes, destemidas, chatas, aborrecidas, persistentes, a insistir, insistir, insistir até que nos doam os ossos todos do corpo.
E doeram. Doeram muito no dia seguinte ao programa. Tivemos um acidente. Alguém não deu prioridade num cruzamento e embateu de frente connosco. Um carro para a sucata e a nossa carrinha parada durante meses. Corpo magoado sem gravidade, o trauma do acidente e a necessidade de parar. E parámos porque quando não podemos mais, retiramo-nos mas a ESTAR não parou porque a Associação é muito mais do que nós, é muito superior àquilo que nós somos ou podemos representar. A velocidade é de cruzeiro, a máquina está oleada, temos gente boa que é corpo e alma ESTAR e as respostas continuaram a ser dadas. Agora estamos no regresso, ainda com ligeiras mazelas mas fortes e firmes, ainda que de olhos fundos e meio pálidas.
Temos muito para fazer. Principalmente fazer cair ideias preconcebidas, formas de pensar ancestrais que nada trazem de novo, e levar a que nos deixem trabalhar porque é apenas isso que queremos fazer: trabalhar porque quando o fazemos resolvemos problemas, ajudamos quem precisa e damos apoio a quem não tem forma de dar resposta.
Diariamente, continuamos a receber palavras de conforto, propostas de parcerias, pedidos de apoio e é isso que nos move porque quando não tivermos razão de existir, retiramo-nos mas até lá…cá estamos.