dissidências e resistências
Vera Pereira

Anda meio mundo a considerar uma “novidade” as pessoas que se autodenominam não binárias, genderqueer, terceiro género, agénero ou género neutro. Mas na verdade, de novo não têm nada, para além da visibilidade que as redes sociais e a comunicação social agora lhes proporcionam.
Nas sociedade ocidentais muitos de nós desconhecem a existência de ruturas com as normas que consideramos que delimitam o que é próprio de homens e mulheres. Uma das (muitas) consequências negativas do colonialismo e do imperialismo foi precisamente o apagamento da pluralidade de expressões, de práticas, de línguas, de tradições, de modos de vida, de expressões de género.
Entre os Dakota das Planícies, os berdache desenvolvem um conjunto de práticas assentes em papéis e comportamentos que no ocidente consideraríamos transgénero. De igual modo os Tomboi na Sumatra Ocidental, os chibados do Ndongo, os muxes no sul do México, os guevedoche na República Dominicana, os two-spirit nos nativos norte americanos, os mahu na Polinésia Francesa e os mudoko dako no Uganda traduzem a diversidade papéis e expressões de género.
Estas caixinhas do que é ser homem e ser mulher, que tanto nos limitam e impedem que sejamos quem verdadeiramente somos, foram construídas. E nada nos impede de as tentarmos desconstruir.