Maria Campaniça Celina Nobre No Monte da Rocha havia um poço. Um barranco também. Que corria o ano inteiro, alimentado pelos invernos chuvosos. Desde a rua do monte bastava descer uma ladeira ingreme e rochosa e chegávamos à horta. Era lá que a roupa se lavava com sabão azul e branco, carregada à cabeça pela … Continuar a ler O poço
Categoria: Maria Campaniça
Os casinhos. Os casos. E o estado a que isto chegou.
Maria Campaniça Celina Nobre Este não é um artigo científico. É de opinião. E circunscreve-se ao nosso país. Acrescente-se que também não é propósito do mesmo dissecar as tramoias, do entra e sai do actual governo, quase mais rapidamente do que se sai dum qualquer supermercado. Não será, seguramente, portanto, um texto para falar do … Continuar a ler Os casinhos. Os casos. E o estado a que isto chegou.
Janelas. Embaciadas.
Maria Campaniça Celina Nobre “Os velhos acreditam em tudo, As pessoas de meia-idade suspeitam de tudo, Os jovens sabem tudo” - Oscar Wilde - As manhãs acordam iguais. A torre lá está a ditar as horas. O tempo escorre. Difícil de registar. Até pelos relógios. A que não falta corda. Na chávena do café, ou … Continuar a ler Janelas. Embaciadas.
“No reino do sofá”
Maria Campaniça Celina Nobre “No reino do sofá” “Que a minha solidão me sirva de companhia. que eu tenha a coragem de me enfrentar. que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.” Clarice Lispector Nota: Adaptação de trecho do livro "Um Sopro de Vida (Pulsações)", de Clarice … Continuar a ler “No reino do sofá”
OUTONANDO-ME
Maria Campaniça Celina Nobre No ciclo eterno No ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém a mim nem me acha diferente Nem diferente deixa-me fechado Na clausura maligna Da índole indecisa. Presa da pálida fatalidade De não mudar-me, me infiel renovo Aos propósitos … Continuar a ler OUTONANDO-ME
– Operária? Sim. Poderia ser qualquer coisa.
Maria Campaniça Celina Nobre “O trabalhador dizia a si mesmo: Aqui estou eu, um operário. Porque é que sou operário? Não sirvo para ser mais nada? É claro que sim! Se ao menos me tivessem dado as oportunidades certas, o mundo ia ver como tenho valor. Médico? Cervejeiro? Ministro? Podia ter feito qualquer coisa. Mas … Continuar a ler – Operária? Sim. Poderia ser qualquer coisa.
Atrás de tempos, tempos vêm
Maria Campaniça Celina Nobre “Eu pego na minha viola E canto assim Esta vida A correr. (…) Quem canta sempre se levanta Calados é que podemos cair (…) Eu sei de histórias verdadeiras Umas belas Outras tristes de assombrar (…) Que atrás dos tempos vêm tempos E outros tempos hão-de vir (…) Mas esse tempo … Continuar a ler Atrás de tempos, tempos vêm
As máquinas
Maria Campaniça Celina Nobre Antes, existia na minha terra o Largo dos Correios. Era o largo das coisas de toda a gente: da Igreja, do Café, da mercearia do sr. Goncalves, do Táxi e do padeiro. Havia no meio do largo um molho de laranjeiras amargas deixadas pelos árabes e bancos de jardim à volta. … Continuar a ler As máquinas
Baloiço de corda
Maria Campaniça Celina Nobre Houve uma época em que nasciam baloiços de corda, nas azinheiras, onde as crianças se divertiam, empurradas pelos sonhos. A escola era cheia de crucifixos e de fotos sépia, emolduras em madeira, imbuídas de tempo, que iam sendo, lentamente, roídas pelos bichos. Nessa altura, as meninas usavam laços brancos no cabelo. … Continuar a ler Baloiço de corda
Camarotes plateias E coxia.
Maria Campaniça Celina Nobre Na minha escola primária, lá para os lados da “Conceição” no concelho de Ourique, onde fiz o exame da quarta classe no século passado, havia meninos de batas brancas e botas novas e outros de batas coçadas e botas gastas. Na sala de aula, os lugares não eram distribuídos pelo grau … Continuar a ler Camarotes plateias E coxia.