Idos de setembro
Sónia Calvário
Setembro sempre teve, para mim, um encanto especial, pelo odor, a luz e as cores. E foi, durante muito tempo, sinónimo de novidade, de expetativa, de regresso, de reencontros.
Neste mês que passou, o que houve foi continuidade e repetição. Muita histeria, muita contestação contra a realização de eventos, de um em particular; depois o silêncio perante o sucesso e a confirmação de que é possível retomar a atividade laboral, económica, social e cultural. Mas para isso é preciso que todos colaboremos, respeitando e cumprindo as regras.
É triste perceber que afinal aqueles que, durante o confinamento, tanto contribuíram para o aliviar, e que deram de si, de forma altruísta, mas que precisam, como todos nós, de trabalhar, de retomar as suas atividades profissionais, para que possam, também eles, pagar as suas contas e garantir a segurança das suas famílias, sejam alvo de um desprezo que nos deve envergonhar a todos. Falo dos artistas e dos agentes culturais, em sentido muito amplo. Mais desprezível ainda porque fundado num medo que pouco tem a ver com o vírus, pois se o fosse estaríamos todos a cumprir as regras higiénico-sanitárias vigentes e aconselhadas.
Tanto haveria a dizer sobre a ausência de seriedade e sobre a pobreza de espírito que continuou a reinar nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais, mas abordarei apenas uma situação recente e que, como bejense, me é próxima.
O jovem Luís Trigacheiro arrepiou, encantando, Portugal, no passado domingo à noite. No dia seguinte, proliferavam post nas redes sociais dando conta de que partilhou algumas publicações do ou sobre o andré ventura e o chega (letras minúsculas propositadas).
Quanto a este partido político e o seu mentor, tão incoerentes que me abstenho de exemplificar, por respeito ao leitores e ouvintes deste blog, e quanto aos seus seguidores já me pronunciei aqui: não tolero. Mas, dando uma vista de olhos na página pessoal do facebook do jovem bejense, vi, de facto, as publicações ou partilhas de que “o acusam”, mas estou em crer que se tratou da ilusão temporária (apenas encontrei menos de meia-dezena, e partilhadas entre novembro e março últimos) de alguém a quem falta ainda maturidade para uma opinião e atitude avalizadas. Quantos de nós não ouviu já – principalmente quando surgiu o a.v. como político – a frase “mas diz umas verdades!”? Muitas dessas pessoas abriram os olhos e conseguiram enxergar o que, cada vez mais, é óbvio e claro; alguns, infelizmente, não, e com a maturidade e o saber – até académico – que o Luís Trigacheiro ainda não terá. Espero não estar enganada.